ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE BRASÍLIA

História, fotos, relatos e tudo sobre a memória dos transportes sobre trilhos.

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AGV
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ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE BRASÍLIA

Mensagem não lida por AGV » 16 Abr 2009, 13:11

É, nem Brasília, com seu super planejamento escapou do sucateamento ferroviário.


http://www.docomomo.org.br/seminario%207%20pdfs/046.pdf


Felizmente, segundo o PDF, há esta proposta (nele apresentada) para a revitalização da funcionalidade da estrutura.


Espartano_bsb
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Re: ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE BRASÍLIA

Mensagem não lida por Espartano_bsb » 16 Abr 2009, 14:19

Bem interessante esse PDF. Depois eu vou ler com mais calma... Mas parece que o VLT não vai passar mais pela rodoferroviária. Mudaram o projeto... Inclusive, a rodoviária vai sair dali... Estão construindo a nova rodoviária interestadual ao lado da estação "shopping" do metrô.

No entanto, existe um projeto de trem metropolitano ligando a cidade Goiana de Luziânia à rodoferroviária de Brasília. Uns anos atrás saiu uma reportagem sobre esse trem metropolitano, mas infelizmente nunca saiu do papel... Quem sabe daqui uns anos não teremos alguma novidade? Vou postar a reportagem no post seguinte.

Aguardem...


Espartano_bsb
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Re: ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE BRASÍLIA

Mensagem não lida por Espartano_bsb » 16 Abr 2009, 14:24

Importante: Essa reportagem saiu em 2003!

Locomotiva de volta aos trilhos
Trecho de 70km da estrada de ferro que liga Brasília a Luziânia será reativado para atender passageiros. Serviço foi extinto em 1994. Estações e casas contam história da ferrovia no DF


O ferroviário aposentado Anasário José da Silva lembra com saudade do tempo em que a estação ficava lotada: ‘‘Era gente de todo tipo’’

Aos 70 anos, o gaúcho de nascença, goiano de criação e brasiliense de coração Waldomiro Vitorino guarda na memória e em velhas e empoeiradas caixas de papelão lembranças dos trens de ferro que partiam ou chegavam a Brasília. A cena mais marcante para esse aposentado é a chegada do primeiro trem à nova capital do país, há 35 anos.

Num domingo ensolarado, pontualmente às 10h17 de 21 de abril de 1968, parava na estação Bernardo Sayão, sob música, aplausos e fogos de artifício, a máquina que saíra no sábado, às 18h30, do Rio de Janeiro. A locomotiva puxava cinco vagões de passageiros. No primeiro, iam militares. No segundo, repórteres, fotógrafos, cinegrafistas e convidados estrangeiros. No terceiro, técnicos do Ministério dos Transportes. Os dois restantes eram o carro-restaurante e o dos ferroviários.

A chegada do trem foi o ponto alto das comemorações do oitavo aniversário de Brasília, na estação entre o Guará e o Park Way. Quando se avistou a locomotiva, começou o foguetório. Músicos entoaram o clássico A Banda, de Chico Buarque. ‘‘Um indivíduo saltou da multidão e pulou no trilho. Aí, deu um grito: ‘Viva Juscelino, grande ausente!’. Os policiais foram atrás, mas ele subiu no outro trem, que vinha de São Paulo’’, conta Vitorino.

Exilado pelo regime militar, Juscelino Kubitschek, o fundador de Brasília, não participou da festa. Mas rendeu outro problema para Vitorino. Um coronel ordenou que ele retirasse a imagem de JK da sua sala. ‘‘Ele ameaçou me prender, mas não tirei. No dia seguinte, ele voltou, à paisana, me deu parabéns pelo ato e disse que, como cidadão, concordava comigo.’’

Por quase três décadas, dois trens cruzaram as linhas férreas do DF levando passageiros. O Expresso Brasil, que ligava Brasília ao Rio de Janeiro, deixou de circular em 1984. Dez anos depois, o Bandeirante, mais moderno e luxuoso, fez a última viagem para São Paulo. ‘‘Tivemos os trens lotados até o último dia’’, diz Vitorino.

om a privatização da Rede Ferroviária Federal (RFFSA), a malha férrea Centro-Oeste passou a ser administrada pela Ferrovia Centro-Atlântica (FCA). A concessão era só para transportar carga. A retomada do transporte de passageiros foi anunciada na semana passada pelo governo federal. Mas, apenas para os 70km que ligam Brasília a Luziânia (leia mapa). O projeto faz parte do Programa de Resgate do Transporte Ferroviário de Passageiros, uma das quatro ações do Plano Nacional de Revitalização de Ferrovias.

A linha deverá transportar cerca de seis mil pessoas por dia, com dois trens nos horários de pico. De acordo com o ministro dos Transportes, Anderson Adauto, a idéia é fazer integração com o metrô, provavelmente no Guará, e seguir até a Rodoferroviária. A instalação será barata, segundo o diretor-administrativo da Valec — empresa estatal de engenharia e construção ferroviária — Bernardo Figueiredo.

A linha já existe, mas é necessário construir as estações e reformar os vagões que são de propriedade da União e estão parados em depósitos em São Paulo. O investimento estimado é de R$ 15 milhões.

O projeto baseia-se em dois estudos, que mostram que viajar de trem é mais seguro e barato. Um foi feito pelo Governo do Distrito Federal, há oito anos. Outro, o engenheiro Giulliano Molinero desenvolveu entre 1998 e 2001, para o curso de mestrado em Transporte da Universidade de Brasília (UnB).

Pelos cálculos de Molinero, com o trem, o tempo da viagem de Valparaíso a Brasília — 54 a 60 minutos pela rodovia, em média — baixaria para 26 minutos, com um custo diário de R$ 4. Uma passagem de ônibus entre as duas cidades custa R$ 2,50.

‘‘Para nós, um dos dados mais importantes dessa pesquisa é a aceitação do público’’, destaca Bernardo Figueiredo. A pesquisa da UnB ouviu 1.800 moradores de Valparaíso sobre o trajeto de trem. A aprovação foi maciça: 92%. Esta semana, Molinero e outros engenheiros da UnB reúnem-se com técnicos do Ministério dos Transportes para discutir o projeto.
O silêncio sem o trem

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A memória da ferrovia se mantém viva atrás da abandonada e suja estação Bernardo Sayão, nas 19 casas onde ex-ferroviários e famílias levam uma vida simples, de cidade do interior. As construções, com mais de 30 anos,
foram erguidas pela Rede Ferroviária Federal (RFFSA), seguindo o padrão das vilas de ferroviários espalhadas pelo país.
As casas têm três quartos, sala, cozinha e banheiro e telhas fabricadas pela RFFSA. Na nº 11, mora um dos mais antigos ferroviários da vila. Anasário José da Silva, 52 anos, chegou a Brasília em 1970. Concursado, ele dirigia a máquina de manutenção nos trilhos.

‘‘Toda sexta-feira, quando o trem Bandeirante saía, a estação ficava lotada. Era gente de todo tipo. Os guardas ferroviários ficavam loucos’’, recorda. Aposentado, ele mora com a mulher e os dois filhos adolescentes na vila da Bernardo Sayão. Passa a maior parte do dia no quintal de casa.

É também no terreiro de casa, embaixo de um pé de manga, que o ex-ferroviário Francisco Expedito Soares Pereira, 53, gosta mais de ficar. Ali, nos bancos de madeira, costuma reunir os amigos e filhos para partidas de dominó e baralho. ‘‘Isso aqui é muito melhor do que o meu Piauí. E sempre foi assim. O silêncio só era quebrado quando o trem passava’’,
conta Francisco.
Dois tempos
Kleber Lima


A estação abandonada

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Estragada e suja, a estação Bernardo Sayão em nada lembra os tempos em que a ferrovia transportava passageiros entre Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo. Atrás doprédio, ficam as casas dos ferroviários aposentados
Reprodução/ Kleber Lima


O primeiro trem

A chegada do primeiro trem em Brasília ficou marcada na memória de Waldomiro Vitorino (de costas), ex-chefe da estação Bernardo Sayão: música, aplausos, fogos e ordem de um militar para tirar retrato de JK da parede

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Fonte: http://www2.correioweb.com.br/cw/EDICAO ... 03_127.htm

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Re: ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE BRASÍLIA

Mensagem não lida por AGV » 16 Abr 2009, 14:27

Se puder (não for preso :ph34r: :lol: ) tirar umas fotos desta estação, seria sensacional! :Y:



Obs.: Digo "preso" porque em Brasília o "trem" aí é mais complicado: correio, os caras olham "50 vezes" os pacotes, RF idem, pela quantidade de Embaixadas, Ministérios e etc´s governamentais que tem no DF. o0


Aliás nem o Estações Ferrovíárias tem esta estação no acervo deles. ;)


Espero que este metropolitano saia do papel, é Brasília pô! :brrb:

Este trecho citado na figura do post, e a estação em Guará é exatamente aquela em que uma linha férrea cruza por sobre a linha do metrô, perto da estação Guará.


abs!


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Re: ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE BRASÍLIA

Mensagem não lida por Espartano_bsb » 16 Abr 2009, 14:46

Felizmente essa estação já está catalogada pelo Estações ferroviárias. O nome dela é Estação Ferroviária Bernardo Sayão. Quase nunca passo por lá, mas a estação está bem deteriorada. Abaixo algumas fotos disponíveis no site Estações Ferroviárias

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A estação em 2005. Foto Flávio Cavalcânti

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A estação em 2005. Foto Flávio Cavalcânti

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A estação em 2005. Foto Flávio Cavalcânti


Fonte: Estações Ferroviárias
Disponível em: http://www.estacoesferroviarias.com.br/ ... rnardo.htm

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Re: ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE BRASÍLIA

Mensagem não lida por AGV » 16 Abr 2009, 14:47

^^Me refiro à estação do PDF ;)


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Re: ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE BRASÍLIA

Mensagem não lida por Espartano_bsb » 16 Abr 2009, 15:14

AGV escreveu:^^Me refiro à estação do PDF ;)
Ah tá! :lol: O prédio do PDF abriga também a rodoviária de Brasília... Um dia eu passo por lá para ver como estão as coisas...

Sobre essa demanda estimada de 6 mil passageiro por dia do trem metropolitano, acredito que ela já esteja totalmente defasada. Só Luziânia já tem mais de 200 mil habitantes, muitos deles trabalhando e estudando em Brasília. Valparaiso conta com mais de 120 mil habitantes e está praticamente conurbada com o DF. Sem contar os bairros do DF como Santa Maria e Gama que são bem populosos e poderiam se beneficiar desse modal. Acredito que passaria fácil dos 25, 30 mil passageiros. Se fosse então integrado ao metrô, esse número poderia aumentar ainda mais... Enfim...

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Re: ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE BRASÍLIA

Mensagem não lida por AGV » 16 Abr 2009, 15:39

Pelo projeto, a linha vai integrar na estação de Guará, parando na antiga estação, que parece ser um tanto "fora de mão" dos locais em Brasília, além de o projeto do VLT (Linha verde) estar previsto para não chegar na estação (que se está no curso da linha deveria chegar sim. tnk )

abs!


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Re: ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE BRASÍLIA

Mensagem não lida por Landrail » 16 Abr 2009, 16:24

Pelas fotos postadas pelo espartano, a estação e o trecho parece operacional... <_<
Meu facebook, se for adicionar favor se identificar:
http://www.facebook.com/landerson.egg

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Re: ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE BRASÍLIA

Mensagem não lida por AGV » 16 Abr 2009, 16:30

Deve ser para cargas.

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HGP
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Re: ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE BRASÍLIA

Mensagem não lida por HGP » 17 Abr 2009, 18:38

AGV e Espartano, um bom tópico que vocês criaram, quase sem querer. É uma ideia futura Espartano para você e futuros foristas de brasilia pensarem a respeito


Pablo ITT
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Re: ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE BRASÍLIA

Mensagem não lida por Pablo ITT » 26 Abr 2009, 14:38

Alguém sabe me dizer se esta construção mostrada na maquete ainda existe e está de pé?
Encontrei na revista módulo de jun/jul 1978

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Re: ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE BRASÍLIA

Mensagem não lida por AGV » 27 Abr 2009, 09:02

É a própria, Pablo.

Hoje, deve ser o maior supositório, feito com o dinheiro público do mundo.


No PDF do início do post há mais imagens dela. (Aquela parte cheia de "quadradinhos" é a área de bilheterias, lounge, etc.

Mais ao fundo são as coberturas das plataformas.

[]´s!

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Ramos
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Re: ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE BRASÍLIA

Mensagem não lida por Ramos » 27 Abr 2009, 20:11

Essa estação recebeu um trem de passageiros - o Bandeirante (Campinas-Brasília) que operou entre 1981 e 1990. Depois disso nucna mais recebeu um trem de passageiros.

Uma curiosidade

"O primeiro trem para Brasília"

Revista "Manchete", 1968 – Centro-Oeste nº 87 (1º-Fev-1994)


[ Esta matéria foi reproduzida na Revista Ferroviária de Junho-1968. Na apresentação da matéria, o redator da RF justifica a transcrição "para que o caro leitor sinta como a moderna imprensa brasileira encara o transporte ferroviário". O nome do repórter não é citado. ]

A saída estava marcada para as 18h30 da sexta-feira. Todos os convidados deveriam estar pontualmente na gare D. Pedro II, no Rio de Janeiro, porque o trem chegaria a Brasília às 10h da manhã de domingo, com pontualidade britânica. Isso era questão de honra.

Assim, 5 minutos antes da partida, as cabines já estavam ocupadas.

Eram 5 carros: — O primeiro para os militares; o segundo para os jornalistas, cinegrafistas e convidados estrangeiros; no terceiro iam técnicos do Ministério dos Transportes; os outros 2 eram o carro-restaurante e o dos ferroviários.

Quarenta horas de viagem pela frente — todos sentiam-se bandeirantes na viagem pioneira.

Na saída do Rio, quase ninguém prestou atenção aos subúrbios que desfilavam pelas janelas. Era a hora dos conhecimentos, das apresentações e das conversas em tom mais grave. Passa um trem apinhado de gente até o teto. O general Elísio Coutinho faz um comentário lacônico: — "O governo devia proibir isso".

No restaurante, os jornalistas comentavam a pontualidade, devido à qual, um colega ficara no Rio. Também surgiu a primeira crítica: — Só havia homens no trem. Militares e civis começavam a falar da mesma coisa, quando apareceram as duas comissárias, vestidas de azul, usando luvras, sorridentes e simpáticas. Aline e Lúcia (não demorou muito para que todos se apresentassem) teriam de atender aos 40 passageiros durante o jantar, no joguinho de baralho e nas rodas onde se tomava uísque.

Assim, com euforia geral, aconteceu o primeiro atraso: — O jantar ferroviário foi servido num horário fora do comum. Aline e Lúcia respondiam a perguntas — de onde eram, família, ocupações — , quando o trem fez a primeira parada, em Barra do Piraí, RJ. Apenas 1 minuto.

Uma hora depois, havia poucos passageiros no restaurante. Quatro oficiais discutiam sobre a indústria automobilística. Outros encolhiam-se nas poltronas. Às 3h da madrugada, o chefe do trem passa com uma lanterna e anuncia:

— Daqui a ponco chegaremos a São Paulo. É melhor os senhores irem dormir. Ainda faltam 35 horas...

Não havia ninguém interessado na chegada à Estação da Luz, mas muitos grupos conversavam em voz alta. Um pedido de "não cantem alto quando passarem pelo carro dos generais". Despedidas. Então, aparece São Paulo, isto é, entram os jornalistas paulistas, que não sabiam do pedido de silêncio e ingressam no trem cantando, juntamente com o colega carioca que se atrasara no Rio: — "Se eu perdesse essa viagem o Andreazza ficaria zangado, e com razão".

Imagem
Trem Bandeirante com carros Budd adquiridos da Estrada de Ferro Sorocabana, rebocados pela locomotiva G.12 n° 110. Este trem ligava Campinas à Brasília, sua viagem inaugural ocorreu nos dias 20 e 21 de abril de 1968, contudo a operação comercial teve inicio em 15 de dezembro do mesmo ano. (Foto extraída do calendário comemorativo dos 100 anos da CM - Acervo do Museu da CP - Jundiaí)
http://www.cmef.com.br/

Às 3h45, quem dormia foi acordado. Eram Campinas, o que queria dizer baldeação para o trem da Cia. Mogiana. No futuro, quando os passageiros saírem do Rio para Brasília, terão essa parada obrigatória, trocando a Central pela Mogiana. Os engenheiros reúnem os jornalistas para uma explicação coletiva:

— Os trens da Central trafegam em bitola larga; os de São Paulo para Brasília têm bitola estreita. A ferrovia paulista é menos bitolada que a carioca.

Aquela mudança também provocou o início da viagem propriamente dita. Agora, com 10 carros e quase 70 passageiros, a composição tinha outra ordem. O carro dos militares era o último e o dos jornalistas passou a ser o primeiro. Um camareiro, elegantemente uniformizado, dava os últimos retoques nas cabines.

Ar condicionado, lençóis novos e um cheiro de eucalipto, tudo convidando ao sono. Mas, apesar disso, a maioria insistia em permanecer no restaurante — "para experimentar a da Mogiana". Surgiu um jantar-da-madrugada, com bife, frutas, ovos, leite e queijo servidos em mesas enfeitadas com flores de Campos do Jordão. A direção da empresa também havia embarcado em Campinas. A opção entre o restaurante e o dormitório ficava difícil.

Mas, às 10h da manhã, depois de passar por Jaguariúna, Mogi Mirim, Tambaú, Santos Dumont e São Simão, pouca gente permanecia acordada. O trem rodava em calma, enquanto o chefe José Benjamim falava orgulhoso dos seus 29 anos de ferroviário:

— Para mim, essa viagem é uma espécie de prêmio. Sou responsável por 365 toneladas. Se Deus quiser, vamos chegar em paz.

Lá fora, o interior paulista, com suas plantações de algodão e enormes cafezais, nos quais os trabalhadores acenavam, surpreendidos com a bandeira nacional que ia presa à locomotiva. Todos tinham esquecido, um pouco, o ar pioneiro e ainda estávamos em Ribeirão Preto. O prefeito, o padre, o delegado, crianças com bandeirinhas paulistas e muita gente na estação lembravam aos passageiros que aquela era uma viagem histórica. Eram 11h40 de sábado — hora de almoço.

A cidade de Juçara já estava para trás, quando começaram as entrevistas, no carro-restaurante. Elogios ao trabalho "realizado após a revolução de abril", elogios ao ministro Andreazza — "o mais civil dos militares" — , perguntas sobre a construção da ferrovia e sua utilização futura.

O trecho realmente inaugurado seria de Pires do Rio (GO) a Brasília. Quem explicou foi um coronel que, desde o início da viagem, lia o livro "O Desafio Americano":

— Isso se chama descobrir o Brasil — disse ele —, ligar pontos que nos conduzem à cidade do presidente.

O coronel Fernando Allah, membro da Diretoria de Vias de Transporte, agora conta um pouco da história da estrada:

— Em 1965, o Batalhão Mauá começou o trabalho em Araguari e conseguiu fazer o progresso até aqui. Depois, fizeram-se mais 247 km de ferrovia até Brasília. No total, trabalharam 600 militares e 1.200 civis.

Minas já estava sendo ultrapassada, com o maquinista Nelson Silva sustentando uma velocidade de 80 km/h. Orgulhoso, ele também considerava uma recompensa a sua função naquela viagem, aguardando o momento de receber cumprimentos das autoridades, na hora da chegada. Era o que dizia, quando avistamos Uberlândia (MG), onde o secretário de Transportes de São Paulo aderiu à comitiva, numa parada de 5 minutos, sob o frio mineiro. Um apito, a partida. Agora, a próxima parada seria Brasília.

Todos retornaram ao restaurante, onde um cardápio bem impresso dizia: — "Jantar — Aperitivo — Creme de Mandioquinha — Peru à Califórnia — Arroz Natural — Sobremesa — Café, licores — 20 de Abril de 1968". Estávamos na última etapa e a decisão foi unânime:

— Ninguém vai dormir.

Uma ida ao carro dos militares permite conhecer o esquema de segurança, organizado para evitar qualquer tipo de contratempo no percurso pioneiro. Do Estado de São Paulo até Goiás, mais de 1.200 homens foram mobilizados para guardar as estações por onde passaria o trem 120-120. Nas passagens de nível, um mínimo de 5 soldados, comandados por um sargento, tinham feito revisão 10 minutos antes de ouvir o barulho da máquina se aproximando. Tudo cronometrado. Nos 558 metros de túnel, ninguém passaria, mesmo se fosse funcionário da estrada fazendo revisão — só acompanhado por um policial. E, no próprio trem, um delegado comandava uma equipe que ninguém sabia ao certo de quantos homens era formada. O comissário paulista Antônio Cardoso disse que se tratava de um esquema normal, fazendo questão de esclarecer aos repórteres:

— Não é nada de mais. Essa importância é maior quando sabemos que viajam conosco jornalistas de todo o Brasil.

A eficiência do esquema foi provada duas vezes. A primeira, às 23h30, ainda em território de Minas, quando a máquina sofreu uma pane. Desceram os homens da direção da Mogiana e alguns policiais, para verificar o que houve, junto ao maquinista. Constatou-se que tinha sido apenas uma descarga elétrica, e a viagem prosseguiu imediatamente. A segunda, quando se confirmou que 2 trens — um na frente e outro atrás, com tripulações e materiais especiais — davam cobertura à composição que fazia a primeira viagem Rio — Brasília.

À 1h da madrugada de domingo, numa estaçãozinha de Goiás, podia-se ver que agora eram soldados do Exército que respondiam pela nossa segurança. Eles estavam lá, em forma, olhando os passageiros que acendiam as luzes das cabines para saber o nome da cidade — Roncador. Na estação, o anúncio de uma casa comercial: — "Compre na Casa Revolução, que desde o dia 31 de Março baixou os preços das mercadorias". Depois, o retorno ao sono, às rodas de baralho, ao bate-papo em que a importância de Brasília ganhava preferência como assunto. Muitos diziam que, só atravessando o País por terra, como naquela hora, é que se pode sentir a importância da capital federal.

Pela manhã, após o café, começa a crescer a expectativa. O trem já corria nos trilhos cuja inauguração se fazia naquela viagem. Povo olhando curioso. Conversas sobre índios, diligências, caçadores, onças. Renascia o ar pioneiro, bem-humorado, do instante em que deixávamos a gare D. Pedro II. O mesmo clima quando atingimos a pequena cidade de Ciro Castilho, a 150 km de Brasília, onde já apareciam crianças com bandeirolas. Cada um procura melhorar um pouco a própria aparência. Afinal, a viagem tinha sido descontraída, mas a ocasião devia ser solene.

Malas prontas, máquinas preparadas, cadernetas nas mãos, militares, fotógrafos, repórteres, todos começaram a ficar agitados na altura do quilômetro 20. Muita gente dos dois lados dos trilhos. Gente do povo, endomingada, mulheres com crianças no colo, escolares com bandeirolas, homens que andaram de ônibus, de caminhão e de carro para saudar o primeiro trem, tão esperado por Brasília. Aperto na estação Bernardo Sayão. Começa o foguetório. A banda de música ataca "A Banda". Eram 10h17; o trem chegara no horário.
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A locomotiva GM-EMD G.12 nº 120 chega à estação de Bernardo Sayão (Distrito Federal) em 21 de abril de 1968. Foto do acervo de Carlos Alberto Missaglia enviada por Marcello Talamo.
http://www.cmef.com.br/


Imagem
Propaganda publica na Revista Ferroviária em dez/1970. Na foto há uma locomotiva diesel-elétrica LEW e carros de aço inoxidável BUDD. (Revista do acervo do Museu da CP - Jundiaí)
http://www.cmef.com.br/
Llevamos um pedazo de país em cada vagón. . .
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Re: ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE BRASÍLIA

Mensagem não lida por Espartano_bsb » 27 Abr 2009, 22:47

Bons tempos... Muito boa matéria! ;) Seria um sonho ter novamente um trem de passageiros na região.


Espartano_bsb
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Re: ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE BRASÍLIA

Mensagem não lida por Espartano_bsb » 27 Abr 2009, 22:51

Pablo ITT escreveu:Alguém sabe me dizer se esta construção mostrada na maquete ainda existe e está de pé?
Ainda está de pé sim... É a rodoferroviária de Brasília. A rodoviária interestadual de Brasília fica justamente nesse complexo. Hoje em dia o prédio está muito mal conservado... Uma pena... Acho que os passageiros só têm acesso ao terminal rodoviário.

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André Vasconcellos
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Re: ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE BRASÍLIA

Mensagem não lida por André Vasconcellos » 30 Nov 2009, 19:32

^^ Sobre a estação Bernardo Sayão citada acima,minha mãe tava vendo fotos da minha prima,q mora em Brasília,aquelas fotos de debutante(15 anos)ontem.Tinham vários cenários conhecidos de Brasília,como o Congresso Nacional e um deles posso jurar q era essa estação!!!!
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frcvfco
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Re: ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE BRASÍLIA

Mensagem não lida por frcvfco » 20 Nov 2012, 14:40

Atualizando:

Atualmente, o terminal de ônibus interestaduais foi para outro local, construído especialmente para ele.

Quanto à estação, penso que a grande preocupação hoje em dia, deve ser a vigilância sobre qualquer projeto de dar outra destinação ao terreno (enorme) do pátio ferroviário -- como aconteceu em Goiânia, na década de 1980, o que inviabilizou a reativação dos trens de passageiros na estação de Goiânia, que ainda está de pé, preservada etc., porém sem condições de receber trens, pois os trilhos já não chegam até ela.

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