[Artigo] Do Rio a São Paulo, de Trem (23/02/2008)

[Renanfsouza]

Julio Lopes - Secretário de Transportes do Estado do Rio de Janeiro

Artigo publicado no JB em 23/02/2008

Poucos ainda guardam na memória a imagem dos reluzentes trens prateados que partiam da Central do Brasil rumo a São Paulo ou a Belo Horizonte. Os que tiveram o privilégio de viajar nos trens Cruzeiro do Sul, Vera Cruz, Santa Cruz ou Trem de Prata, lembram das cabines amplas, luxuosas e confortáveis e do glamour que cercava a viagem. Sem contar a pontualidade. Passados muitos anos, o que restou dos vagões americanos Budd de aço inox se deteriora lentamente na lembrança e em antigas oficinas da extinta Rede Ferroviária Federal, em Juiz de Fora. Agora, começa a sair do papel o projeto de retomar a ligação entre as duas capitais utilizando o TAV - Trem de Alta Velocidade - comum na Europa e na Ásia, mas que no Brasil nunca foi além da intenção. Uma notícia auspiciosa, especialmente se considerarmos o traumático 'apagão' que assolou o tráfego aéreo do país.

Os primeiros passos já foram dados. O BNDES e o Banco Interamericano de Desenvolvimento escolheram o consórcio formado pelas empresas cariocas Sinergia e Balman e pela inglesa Halcrow para rever os estudos existentes e elaborar o projeto básico do TAV. Em sete meses, o consórcio deverá apresentar o estudo de demanda e traçado, que vai estimar o público potencial e apontar possíveis locais para a construção de estações. Um estudo geográfico do trajeto a ser percorrido irá determinar a tecnologia mais adequada para construção da via, o material rodante. A partir dele, será estimado o custo final de implantação.

Temos convicção de que o trem-bala irá mudar radicalmente a realidade das duas capitais. O ambiente propício ao acompanhamento e à fiscalização do projeto já foi construído, com a parceria firmada entre a União e os governos do Rio e São Paulo. Técnicos das secretarias de transportes dos dois estados começam a avaliar o impacto que o trem de alta velocidade trará para a rotina, a economia e a infra-estrutura das regiões por onde passar.

Já fomos à França e à Itália para conhecer novas tecnologias. Em março vamos à Coréia e ao Japão. Estamos estudando a integração do TAV à malha ferroviária urbana, a exemplo do que acontece em outras cidades do mundo. Planejamos construir uma linha férrea ligando a Barra da Tijuca ao Centro do Rio, passando pelo Aeroporto Tom Jobim e por alguns bairros centrais. Estudamos também utilizar o TAV, nos horários noturnos, como cargueiro.

O trem de alta velocidade não é um problema de tecnologia ou de falta de dinheiro. É, essencialmente, uma questão de gestão política. Por isso, acreditamos que o bom entendimento entre os governos do Rio e de São Paulo vai tornar real este desejo da população. Trabalhando juntos, desenvolvendo o projeto baseado em parcerias público-privadas, poderemos racionalizar os investimentos, para que, em 2015, cariocas e paulistas já possam ir de uma cidade a outra em apenas uma hora e meia.

A Europa, a partir dos anos 90, passou por uma intensa modernização nos transportes, e implantou trens de alta velocidade em suas principais cidades. A França vai trocar, a partir de 2009, seu atual TAV por trens de altíssima velocidade, que atingem mais de 400 km/h. A China já tem 2.500 quilômetros de linhas para trens de grande velocidade. No nosso continente, a Argentina 'chegou primeiro à estação' e já deu a partida no seu projeto de construção de um trem-bala. O Brasil precisa entrar nesta nova era. O deslocamento sobre trilhos torna a viagem mais segura e pontual, além de ser o meio de transporte com capacidade de levar mais passageiros.

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Este é um artigo veho, de fevereiro deste ano. Mas é bem interessante.