No entanto, não temos TAV, ferrovias eficientes, aeroportos de qualidade e tantas outras coisas porque nos falta algo essencial: educação e mentes preparadas. É uma questão de prioridades lógicas. E, por essa razão, não somos a potência que gostaríamos de ser.
Vivemos em um país onde muitos se preocupam em vestir roupas de grife e ter os últimos eletrônicos, melhorar a vida apenas no âmbito pessoal ou de seu círculo de convivência, mas faltam as bases estruturais e culturais que realmente sustentam o desenvolvimento. Seguimos, assim, vivendo de aparências.
Queremos nos comparar com a Europa, mas ignoramos o caminho que eles percorreram. Foram séculos, até milênios, de esforço, aprendizado e conquistas para chegarem onde estão. Por isso, toda essa "modernidade" que tentamos exibir aqui não tem um impacto real. O comportamento da sociedade expõe nossas lacunas, e o progresso que precisamos não pode ser alcançado sem antes resolver o essencial.
Com isso em mente, tive a ideia de criar um fórum para discutir transporte ferroviário – algo tão necessário em um país continental como o nosso. Mas percebi que é difícil exigir aquilo que muitos sequer conseguem compreender ou oferecer.
Nossos aeroportos, telecomunicações, internet e tantas outras infraestruturas não operam com o desempenho competitivo e produtivo com a eficiência que deveriam pois nos falta visão, consciência e, sobretudo, mentes capacitadas para exigir e implementar padrões de primeiro mundo. É a falta de educação e preparo que perpetua esse ciclo.
Na Europa, o sucesso vem porque pensaram e planejaram. Aqui, queremos os resultados sem trilhar o caminho necessário para conquistá-los. E isso reflete em tudo: de infraestrutura a esportes. Somos os "campeões morais" que voltam de competições sem medalhas, mas com caras e bocas para sustentar o ego.
Infelizmente, cheguei à conclusão de que não faz sentido discutir a implantação de algo de primeiro mundo em um país que sequer faz o básico. Tomemos como exemplo a Copa do Mundo: um evento que, apesar de suas prioridades questionáveis, exige infraestrutura. O que vemos, no entanto, são "arranjos", com força-tarefa improvisada para esconder problemas ao invés de resolvê-los.
Como um dos fundadores do TGVBR, sinto-me na obrigação de dizer que não consigo mais levar a sério a discussão sobre algo tão valioso como o transporte ferroviário de alta velocidade em um país que ainda carece do essencial.
Se quiserem debater o tema "TAV no Brasil", sintam-se à vontade. Mas, acima de tudo, reflitam sobre as verdadeiras mudanças que precisamos fazer para que sonhos como esses deixem de ser apenas ideias distantes e se tornem uma realidade possível.
Uma delas, básica, é a de antes de se construir algo com custo elevadíssimo de projeto, construção e operação, o que tem de ser feito é recuperar a malha existente, de cargas e passageiros, construir e disponibilizar linhas convencionais e de média velocidade, até porque dentro deste contexto, construir um TAV com esta malha que temos hoje é como pretender construir uma casa pelo telhado: Sem sentido..
Sem falar em outros aspectos, como o econômico e de (real) demanda e, citando um fato em específico: A fuga de negócios da cidade do Rio de Janeiro em função da grave crise de Segurança pública em que a cidade está mergulhada, há décadas, fazendo com que até a movimentação do aeroporto internacional local (Galeão) caia drasticamente e seja grandemente afetada porque as empresas de logística simplesmente se mudaram para outras cidades mais viáveis para se trabalhar.
E considerando mais este fator, é bem difícil não se considear que já se estaria construíndo uma linha deficitária desde o projeto ou, como dito, pelo menos se optar por uma de média velocidade, como um governador na época disse, "um trem meio bala"
