Metrô sem aperto em São Paulo, só na linha 'desconectada'; estação em construção vive dias de agito
Haroldo Ceravolo Serezado
UOL Notícias Em São Paulo
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Sheila Felipe, 27 anos, gerente de mercado, define o que é metrô lotado: não tem lugar para sentar e não dá para ficar se mexendo. Mas ela nunca se sentiu "espremida".
Passageiros aguardam chegada de trem em estação da linha Lilás; veja mais fotosUsuária da linha Lilás (5) do Metrô de São Paulo, que liga o Largo Treze ao Capão Redondo, na zona sul de São Paulo, Sheila goza de um conforto sonhado, mas difícil de realizar, para quem pega as linhas Azul (1) e, principalmente, a linha Vermelha (3), nos horários de pico.
A linha 5 tem, no chamado horário de vale, uma média de 1 passageiro em pé por metro quadrado, enquanto, no horário de pico, a linha 3 transporta nove passageiros no mesmo espaço. Nos horários de menor movimento, até tem quem viaje em pé, mas, em boa parte das vezes, não é por falta de lugar para sentar.
Sheila pega o trem lotado, com uma média de 4 passageiros em pé por metro quadrado, quando entra pela manhã no serviço. Quando entra mais tarde, como nesta quarta-feira, depois do meio-dia, a viagem fica ainda mais tranquila.
Moradora de Taboão da Serra, Sheila pega o metrô para economizar R$ 3,35 por viagem. Se fosse de ônibus, teria de pagar duas passagens. Integrando ônibus, metrô e ônibus, sai do Taboão e vai para Itapecerica passando por São Paulo com R$ 3,35. Com a economia em dinheiro, perde de 20 a 30 minutos.
Um dos motivos do conforto da linha Lilás, no entanto, é um problema. Cortando uma região fortemente povoada, ela não leva o usuário até o centro. Pelo menos, não de um modo muito fácil.
Para chegar à Sé, por exemplo, sem usar ônibus, o passageiro que sai do Capão Redondo teria de passar por 4 estações de metrô até chegar à estação Santo Amaro, baldear para a linha 9 da CPTM, passar por 11 estações, baldear para a linha 8 dos trens, onde passaria por mais 4 estações, pegar o metrô novamente na Barra Funda e descer na sexta estação da linha Leste-Oeste, a 3.
Ainda assim, o número de usuários da linha 5 é significativo: são 125 mil pessoas por dia. Nos horários de vale, são 3.000 passageiros por sentido por hora, segundo levantamento do próprio metrô.
A chance de viajar sentado no sentido Largo Treze-Capão Redondo é altíssima por volta do meio-dia, como pôde verificar a reportagem do UOL Notícias.
Mas é provável que a família formada por Luís Roberto dos Santos, 35 anos, vigilante, Jéssica Maria da Silva, 35, agente de saúde, e a filha Dária Cristina, de 5 anos, que saia do Capão Redondo em direção à estação Santo Amaro, tivesse uma dificuldade um pouco maior para encontrar assento para todos.
Do Capão para o Largo Treze, havia uma concentração maior de passageiros nos trens, o que provavelmente se inverteria no horário de pico da tarde e da noite, que começa, para o metrô, às 17h e acaba às 20h.
"Pegamos o metrô toda vez que vamos para o centro", diz Luís Roberto. Ontem, eles iam levar a filha Dária Cristina para fazer um teste fotográfico perto do metrô Vila Madalena. No fim do dia, como boa parte dos usuários, sua família estaria voltando para casa.
Para chegar até a Vila Madalena, além do metrô, eles passariam pela linha 9 da CPTM e pegariam a ponte Orca, um ônibus gratuito para usuário do sistema de trens e metrô, da estação Pinheiros até a Vila Madalena.
O conforto do metrô é o principal motivo que faz o "corretor do zoológico" e "especialista em zootecnia" Edelmo Gomes, 72, morador do Parque Fernando, pegar o sistema para ir até o Largo Treze.
"Na lotação, pelo amor de Deus", diz. Ele conta que, dias atrás, ofereceram o lugar, por conta da idade. "Na lotação, não adianta nem brigar", completa. O melhor número para aposta, no dia, ele sugeriu: 64, do leão, portanto.
Se há certa tranquilidade na linha Lilás, há um forte agito na linha Verde, no lugar em que funcionará a futura estação Sacomã, entre as atuais Alto do Ipiranga (zona zul) e a futura estação de Vila Prudente (zona leste).
A estação Sacomã será próxima a ser inaugurada pelo metrô de São Paulo - a previsão é que ela seja entregue ao público até o final de dezembro.
Técnico contratado por uma das empreiteiras que tocam a obra, o estudante de engenharia Washington Tadeu Santana, 30 anos, contabiliza: "Do meu lado (sim, há outro), no meu turno, são 48 pedreiros, 59 ajudantes, 5 carpinteiros, 2 pintores, 2 eletricistas, 3 encarregados. Conheço cada um pessoalmente, se um falta, eu sei".