Uma homenagem à mais paulista de nossas ferrovias
Enviado: 26 Jan 2009, 16:06
Se alguma ferrovia brasileira merece ou mereceu uma homenagem , a primeira delas com certeza é a CPEF - Companhia Paulista de Estradas de Ferro.
A Pioneira, que começou do zero, a única ferrovia considerada 5 estrelas no Brasil, onde as pessoas ajustavam seus relógios pelo apito do trem! a Paulista!
Histórico da companhia, seu império durou de 1864 até 1961.
1868
A Companhia Paulista é fundada pelos "Barões do Café" da região de Campinas, grandes produtores de café e proprietários de escravos. Seu objetivo inicial consistia em ligar Campinas a Jundiaí, onde terminava a São Paulo Railway, ferrovia britânica cuja linha atingia o porto de Santos - permitindo, assim, o escoamento da produção agrícola do Interior paulista, até o porto de Santos. O café que viria a ser transportado pelos trens da Paulista, durante muitos anos, seria o café produzido pelos próprios acionistas da Companhia.
1872
A Companhia Paulista é inaugurada, na bitola de 1,60 m. Nos anos seguintes e ao longo do século XX, iria ampliar a sua linha-tronco, que, a partir de Ityrapina, se bifurcaria até Colombia e até Panorama, divisa com o atual Estado de Mato Grosso do Sul.
1880
A Companhia Paulista irá construir e ampliar ramais ao longo das décadas e do século XX. Em 1880, inaugura um ramal ligando sua linha-tronco a Porto Ferreira, ramal esse que posteriormente seria ampliado e, futuramente, seria conhecido como Ramal Cordeirópolis-Descalvado
1892
A Companhia Paulista adquire a "The Rio Claro Railway Co."
1901
A primeira greve da CP
1904
Início das atividades do Horto Florestal da Companhia Paulista, em Jundiaí
1914
A Companhia Paulista iniciou a unificação de sua bitola para 1,60 m, processo que foi concluído em 1958.
1922
A Companhia Paulista inaugura, entre Jundiaí e Campinas, o primeiro trecho eletrificado em ferrovias brasileiras. Posteriormente, sua eletrificação chegaria até Araraquara e até Bauru (mais precisamente, até Cabrália Paulista). Com a privatização da Fepasa em 1999, a tração elétrica, nas linhas remanescentes da antiga Companhia Paulista, foi desativada e está sendo retirada
1928
Reforma Administrativa da Companhia Paulista, totalmente baseada na Organização Racional do Trabalho (taylorismo), caracterizada dentre outros aspectos pela separação entre planejamenmto e execução, trabalho manual e intelectual. A Companhia Paulista, apesar de inteiramente nacional, possuía práticas capitalistas extremamente avançadas para a época, no Brasil. Foi, desta forma, precursora do que, nos dias atuais, denomina-se "qualidade total", do ponto de vista empresarial. Sua eficiência era tamanha, que as pessoas utilizavam os apitos de suas locomotivas para acertarem o ponteiro dos minutos, de seus relógios. Seu perfeccionismo era tal em, que um pequeno atraso (3 minutos, suponhemos) no horário de partida ou chegada de um trem, costumava ser objeto de extenuantes sindicâncias e, por vezes, ocasionar a demissão do maquinista.
A Companhia Paulista sempre procurava utilizar o que de melhor havia em material rodante, em sua época (se atualmente ainda existisse e funcionasse como em seus anos dourados, provavelmente estaria utilizando, hoje, TGV’s em suas linhas). Assim, além de haver introduzido a tração e as locomotivas elétricas no Brasil em 1922, inicia, em 1928, a importação de grandes carros de passageiros em aço carbono, produzidos pela ACF - American Car & Foundry.
1946
A Companhia Paulista adquire as possantes locomotivas "V8", da da General Electric. Assim, em meados da década de 40, passou a dispor de locomotivas elétricas tracionando composições de passageiros a 120 km/
1949 a 1952
A Companhia Paulista agrega diversas outras ferrovias menores no Estado de São Paulo, como a E.F. do Dourado, a E.F. Morro Agudo, a E.F. São Paulo-Goyaz, a E.F. Barra Bonita e a E.F. Jaboticabal.
1954
Em 1954 desembarcam, no porto de Santos, os luxuosos e confortáveis carros Pullman Standard da Companhia Paulista, que foi a única ferrovia brasileira a adquiri-los. Estes carros de passageiros, construídos pela Pullman Standard Car Manufacturing Company, superavam, em termos de conforto e estabilidade, quaisquer carros de passageiros já existentes, inclusive os carros em aço inoxidável da The Budd Company das séries 500 e 800 . O únicos carros da Budd à altura dos Pullman da Companhia Paulista, foram aqueles adquiridos pela E.F. Central do Brasil, que em seus últimos suspiros operacionais faziam o trajeto Rio-São Paulo, ocasião na qual haviam sido rebatizados de "Trem de Prata".
Fato Curioso: Apesar de a Paulista adquirir muitos carros de passageiros importados, é necessário pontuar que, em suas Oficinas de Rio Claro, fabricava ela própria muitos de seus vagões e carros de passageiros. Nesse sentido, a Companhia Paulista (e também a Estrada de Ferro Araraquara) fabricava carros de tal modo parecidos com os Pullman Standard importados, que o passageiro "comum" e desconhecedor das sutilezas dos materiais ferroviários, seria incapaz de distingüir aquele fabricado em Rio Claro, do outro, produzido em Chicago.
A ESTATIZAÇÃO E DECADÊNCIA EM 1961
A PAULISTA ENQUANTO FERROVIA ESTATAL
Administração autônoma, entre 1961 e 1971
Tão logo foi estatizada em 1961, os primeiros sinais de decadência começaram a se fazer presentes. Os mais leves foram um certo "afrouxamento" em seu perfeccionismo, bem como na rígida disciplina de seus empregados. Todavia, alguns fatos mais graves já eram um prenúncio do que ocorreria na década seguinte. Assim, em 1965, teve início o processo de desativação de seus ramais, com o fechamento das linhas remanescentes da antiga EF Douradense, cujos trilhos seriam arrancados em 1967. Ainda em 1967, a Companhia Paulista seria sobrecarregada por haver recebido, por parte do Governo do Estado, a incumbência de administrar uma outra ferrovia estadual, a EFA (Estrada de Ferro Araraquara). Finalmente, entre 1969 e 1971, dois anos antes de sua incorporação à Fepasa, milhares de ferroviários da Paulista foram demitidos - e, considerando-se a excelente qualificação profissional destes últimos, é de se supor que a sua demissão tenha ocasionado reflexos negativos, sobre a ferrovia. Ao mesmo tempo, contudo, determinados investimentos continuaram sendo realizados, como a aquisição, da General Electric do Brasil, das locomotivas elétricas "Vandeca" e das Diesel-Elétricas alemãs Lew, em 1967. Apesar de tudo a Companhia Paulista ainda poderia ser considerada uma boa estrada de ferro, tendo como referência os padrões europeus da época.
Então, vamos as fotos:
Mapa das linhas da CP em 1961, ano de sua estatização, a divisa entre auge e decadência
Embora não terem sido a principal tração da Paulista, deram o passo inicial pra a fundação da companhia e fizeram ela ser o que foi
A primeira locomotiva da CPEF:
Outras locomotivas:
Se a Paulista não for eletrificada, em breve não distribuirá dividendos.
Eng° Francisco de Monlevade, 1916
Impulsionada pela alta do carvão e a necessidade de modernizar as linhas, a CP começou a eletrificação das linhas, tendo inaugurado o primeiro trecho Jundiaí-Campinas em 1922
O famoso Pullman:
O quadro de locmotivas da CP, em 1968, já na era da decadência, como estatal
As primeiras locmotivas elétricas da companhia chegaram junto com a eletrificação, foram as famosas Baldwin Westinghouse/GE
e também as Brown Boveri, que eram maiores:
O lendário trem azul, expresso de luxo da Companhia, era puxado também pelas mais famosas locomotivas elétricas do Brasil, que começaram carreira na CP, as V8 2-C+C-2
A mais bonita foto da V8, na minha opinião, no segundo padrão de cores:
Primas das V8, as chamadas "Russas, maiores e mais pesadas, foram produzidas pelos EUA para a URSS, mas com o cenário de crise entre esses dois países, elas não foram exportadas, e então algumas delas vieram para o Brasil
Vandecas:
Tracionando o trem azul:
As diesel, usadas em ramais não eletrificados e em manobras:
Alco PA-2
Alco RS-3
alemãs LEW, atualmente na CPTM
G-12
essa seria a mobilete das locomotivas?
Baratona:
Baratinha:
Oficinas de Jundiaí
Km 1 da linha tronco, em Jundiaí:
os Pullman Standard:
Outros carros que compunham o Trem Azul:
Postal da CP, mostrando o expresso sendo puxado pela V8:
Passando numa ponte sobre o Rio Tietê:
Carro de madeira da CP:
Isso é tudo, pessoal!