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Cargas, passageiros e melhorias do sistema
Enviado: 22 Abr 2009, 08:19
por Vicente
Lescaut escreveu:E a Vale transporta os próprios funcionários assim, também, não?
Aliás, a mensagem do presidente da MRS, no seu site:
SONHO E PESADELO
Filas quilométricas de caminhões parados em importantes estradas do país. Produtos agrícolas apodrecendo nos silos. Indústrias reduzindo a produção e demitindo empregados. Queda nas exportações, desequilibrando a balança comercial e penalizando a economia brasileira. Um país que não cresce.
Esta, que parece cena de filme de terror, pode vir a ser a realidade brasileira daqui a poucos anos. A ausência de planejamento e ações para a infra-estrutura de transportes e logística do país está anunciando um apagão logístico, de conseqüências ainda mais graves que a crise energética que vivenciamos anos atrás.
Um olhar sobre o setor ferroviário traz mais nitidez a esta discussão. Quando transferiu a operação das ferrovias para a iniciativa privada, em meados dos anos 90, o Governo brasileiro expressava o desejo da sociedade de contar com mais eficiência no setor e de ampliar a participação dos trens na matriz nacional de transportes. Passada uma década, fatos e dados atestam os resultados positivos da iniciativa.
Juntas, as empresas de transporte ferroviário de carga movimentaram 392 milhões de toneladas em 2005, volume 55% maior do que o que foi transportado em 1997 (253 milhões). O peso da ferrovia no conjunto dos modos de transporte brasileiros subiu de 19% para 26%, neste período. Mais de R$ 10 bilhões foram investidos: na aquisição de locomotivas e vagões, na recuperação das linhas, na modernização da tecnologia, no desenvolvimento de pessoas. Só em 2006, as concessionárias estimam investimentos de cerca de R$ 2,5 bilhões.
São números expressivos, sem dúvida, mas o Brasil quer mais, o Brasil precisa de muito mais. As ferrovias estão preparadas para responder os desafios do presente e para contribuir com um futuro em que não aconteçam as cenas descritas no primeiro parágrafo. Mas, somente uma ação decidida e urgente de outros atores, especialmente do Governo Federal, pode superar os maiores entraves ao crescimento desejado.
Para chegar aos portos de Santos e do Rio de Janeiro, os trens da MRS passam "dentro" de favelas, em alguns trechos a inacreditáveis 50 centímetros dos barracos. A faixa de domínio da ferrovia foi invadida e a atitude passiva da RFFSA e dos municípios, à época, permitiu que verdadeiras comunidades se instalassem ao lado das linhas. A situação, além da degradação social e dos riscos à segurança das pessoas, obriga a redução da velocidade dos trens para 5 km/h, penalizando os clientes e trazendo graves transtornos à operadora. As ferrovias, em levantamento recente, identificaram 824 focos de invasões, em todo o país. Não dá para pensar num sistema ferroviário eficiente sem a solução deste problema, uma questão social, que exige soluções de planejamento urbano e habitação, articuladas entre municípios, estados e União.
As principais cidades brasileiras surgiram e se consolidaram no entorno das linhas férreas, que, historicamente, foram caminhos indutores do desenvolvimento. Com isso, chegamos a uma situação em que os cerca de 28 mil quilômetros da malha ferroviária brasileira são cortados por 12.500 passagens em nível (cruzamento com vias de tráfego de carros e pedestres). Destas, 2.503 foram classificadas como críticas, considerando fatores como riscos para pedestres e motoristas e interferência no tráfego. A implementação de um programa de obras nestes cruzamentos é fundamental para a segurança e redução dos transtornos às comunidades e para permitir o aumento da velocidade média dos trens, melhorando o desempenho operacional do transporte ferroviário de cargas.
Para cruzar a região metropolitana de São Paulo, os trens de carga compartilham as linhas com composições de transporte de passageiros. Com isso, só são autorizados a circular em períodos reduzidos do dia e da noite e sofrem restrições de peso e volume. Este gargalo limita o crescimento da ferrovia justamente no coração do Estado que lidera a produção industrial brasileira. A segregação de linhas e a construção de um contorno ferroviário (o Ferroanel) são projetos que já estão prontos e precisam sair do papel para solucionar o problema, que afeta de forma significativa a economia brasileira.
O desestímulo ao setor e a ausência de foco na diversificação de cargas e na conquista de novos mercados, características marcantes da fase anterior à privatização, definiram um panorama em que a ferrovia ainda é muito pouco atraente para a chamada carga geral. A ausência de terminais adequados e eficientes desafia a todos: clientes, operadores logísticos, transportadores e governo. A ineficiência dos portos é outro limitador grave, especialmente na interface da nossa economia com o mundo exterior.
A nova fase da história da ferrovia no Brasil passa pela superação destas barreiras. E, para isso, é preciso investimento. Investimento em obras que solucionem os gargalos nas travessias dos centros urbanos. Investimento na segregação das linhas de carga e na construção do Ferroanel. Investimentos em terminais inteligentes que favoreçam a prática efetiva de relações intermodais que atendam as necessidades dos clientes. Investimento nos portos. Investimentos sociais na solução dos conflitos decorrentes das passagens em nível e da ocupação das faixas de domínio das ferrovias.
E, para que estes investimentos fundamentais se viabilizem, é indispensável a participação e articulação do Governo brasileiro. É urgente a definição de uma estratégia clara e com visão de longo prazo para as questões de infra-estrutura de transporte, contemplando projetos e ações capazes de eliminar os gargalos e permitir que a ferrovia assuma efetivamente o seu papel indispensável ao desenvolvimento nacional.
É este o trilho seguro que pode nos conduzir a um futuro em que o apagão logístico e suas conseqüências dramáticas não passem de pesadelo. Um futuro em que compartilharemos o sonho de um país produtivo, eficiente, desenvolvido e justo.
JULIO FONTANA NETO
Presidente da MRS Logística S.A.
Lescaut,
O que o Júlio Fontana diz nesta carta é a mais pura verdade.
Poucas são as empresas que usam o modal ferroviário para escoar sua produção, ou para receber insumos.Grandes empresas já utilizaram ferrovia e deixaram de usá-la por "n" motivos (desde restrições de horários a vandalismo às cargas). Devido ao meu trabalho, visito muitas empresas, e até hoje, só vi duas usando a ferrovia para receber bobinas de aço, uma em SP e outra em Três Corações, MG.
Aqui em SP, um dos moitivos foi a convivência não muito amistosa entre os trens de passageiros e os cargueiros, que infelizmente compartilham
vias ao invés de
faixa de domínio. Isso gera transtornos tanto às linhas urbanas (que não são mais suburbanas há anos) quanto às duas concessionárias de carga que operam a malha de cargas, ALL e MRS. Sem falar que, ao que me consta, há dificuldades de se fazer o controle de tráfego compartilhado por sinalização não totalmente compatível em alguns casos...
As concessionárias assumiram a malha numa situação lastimável, investiram primeiro em tentar aproveitar o que já existia, pra depois melhorar as condições (vê-se as duas empresas que citei comprando vagões e a MRS comprou até locomotivas zero). Esses investimentos não são nada pequenos, cara!
O grande problema é que aqui no Brasil só se espera pelo Estado investir em infraestrutura. Não sei se isso é por conta de legislação ou de outro fator, mas é o que ocorre.
E enquanto isso, vamos caminhando pro apagão logístico previsto pelo sr Júlio...
Re: Cargas, passageiros e melhorias do sistema
Enviado: 22 Abr 2009, 11:05
por Pablo ITT
Revista Ferroviária.
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Alvorada ganhará canteiro de obra da Norte-Sul
20/04/2009 - A Notícia (TO)
O presidente da Valec, José Francisco das Neves, anunciou o lançamento de mais um canteiro de obras da FNS - Ferrovia Norte-Sul no Tocantins, na cidade de Alvorada, a 343 km de Palmas, que será feito no próximo dia 4 de maio. O trecho tem 110 km de extensão, compreende as cidades de Alvorada e Gurupi, no sul do Estado, e deve receber investimentos de cerca de R$ 350 milhões do governo federal. O anuncio foi feito nesta sexta-feira, 17, em Porangatu (GO), durante a inauguração de três canteiros de obras da estrada de ferro nas cidades goianas de Uruaçu, Campinorte e Porangatu que, juntos, formam um trecho de 225 km.
O governador Marcelo Miranda participou dos lançamentos dos canteiros da FNS nas três cidades, a convite do governador de Goiás, Alcides Rodrigues, e do presidente da Valec. Durante discurso para uma multidão, em Uruaçu, Marcelo Miranda comparou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o ex-presidente Juscelino Kubistchek, ao se referir ao desenvolvimento do Tocantins e Goiás, proporcionado pela Ferrovia Norte-Sul e pela rodovia Belém-Brasília (BR-153), respectivamente. “A população tem um presidente da República que tem mostrado para o Brasil e para o mundo que se trabalha é olhando para frente, que crise se debela com trabalho”, disse o governador. “A Ferrovia não só gera emprego, renda e desenvolvimento, como traz dignidade para as pessoas”, completou Marcelo Miranda.
Para o governador de Goiás, Alcides Rodrigues, a consolidação da ferrovia vai interligar ainda mais o Tocantins e Goiás. “Tocantins e Goiás, estados irmãos, serão unidos agora, também, pela Ferrovia Norte-Sul.
Já o presidente Valec, José Francisco das Neves, conhecido como Juquinha, destacou que a FNS é a maior obra ferroviária do mundo atualmente, em extensão, e garantiu que os recursos financeiros para a conclusão da obra já estão alocados. “O presidente Lula nos falou, em audiência na última semana, que a crise não chegará na ferrovia, que todos os recursos necessários para a conclusão da obra já estão disponíveis”, afirmou Juquinha.
Lula
Juquinha das Neves anunciou também, durante seu discurso em Uruaçu, que o presidente Lula deverá vir ao Tocantins no próximo mês de maio, pela terceira vez, somente para inaugurar trechos da Ferrovia Norte-Sul. Desta vez, será o trecho de 113 km de extensão, entre Colinas do Tocantins e Guaraí, que recebeu investimentos de R$ 370 milhões.
A comitiva dos dois governadores, mais o presidente da Valec, deputados dos dois estados, prefeitos, secretários e outras autoridades, iniciaram as inaugurações dos canteiros de obras em Uruaçu, onde Alcides Rodrigues, Marcelo Miranda e Juquinhas das Neves subiram numa máquina para simbolizar o início das obras. Em seguida, a comitiva seguiu para a cidade de Campinorte, onde também foi inaugurado um canteiro de obras.
Em Campinorte, Juquinha anunciou que, assim como está acontecendo no Tocantins, as instalações físicas dos canteiros de obras das empresas serão doadas às prefeituras, para serem utilizadas como centros de aperfeiçoamento profissional. “Vamos doar essas estruturas para as prefeituras, para que os trabalhadores possam se capacitar para os empregos que serão gerados, com instalação de indústrias e empresas trazidas pela Ferrovia Norte-Sul”, afirmou. De Campinorte, a comitiva seguiu de carro até a cidade de Porangatu, onde uma multidão de mais de 1.000 pessoas aguardava, para a inauguração do canteiro de obras da Ferrovia.
O trecho da Ferrovia Norte-Sul lançado em Goiás, com 225 km, compreende os municípios de Uruaçu, Campinorte, Mara Rosa, Porangatu, até a divisa com o Tocantins, nas proximidades do Córrego Enseada, no municipio tocantinense de Talismã. Os investimentos nesse trecho somam R$ 900 milhões, oriundos do governo federal, por meio do PAC - Programa de Aceleração do Crescimento. Somente nesse trecho, serão gerados diretamente quatro mil empregos, segundfo a Valec.
Participaram dos lançamentos, pela comitiva do governador Marcelo Miranda, o presidente em exercício da Assembléia Legislativa, Júnior Coimbra, o deputado federal Laurez Moreira, além dos secretários de Governo, Manoel Bueno, e de Comunicação, Sebastião Vieira de Melo.
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As notícias parecem boas mas será que são verdadeiras? Até que ponto poderão desatar os nós? O caminho que está sendo trilhado atualmente é suficiente?
Falo como simples espectador e torcedor para que tudo de certo. Existe muita expectativa boa mas muito pessimismo (ou politica do contra) nisto tudo. Como leigo (no sistema de cargas) não sei em quem acreditar, governo, concessionárias ou oposição, já que nos jornaisdificilmente aparecem opiniões técnicas de fácilcompreensão. Alguém poderia dar uma luz?
Re: Cargas, passageiros e melhorias do sistema
Enviado: 22 Abr 2009, 11:16
por Lescaut
Vicente, concordo.
Eu postei esse texto lá para ilustrar a pendenga entre a concessionária e os governos -- em citação à questão do trem turístico.
Agora, acho um absurdo que cargas passem por dentro da cidade, mesmo. A bola do ferroanel está com o Governo do Estado ou com o Gov. Federal?
Re: Cargas, passageiros e melhorias do sistema
Enviado: 22 Abr 2009, 20:19
por Pranda
Lescaut escreveu: A bola do ferroanel está com o Governo do Estado ou com o Gov. Federal?
Creio que esta com o Governo Federal, confere ?
Re: Cargas, passageiros e melhorias do sistema
Enviado: 26 Abr 2009, 12:44
por Vicente
Ao que me consta, seria algo com investimento conjunto, e o tramo sul do Ferroanel SP sairia junto com o Rodoanel SP (trilhos em SBC, que sonho...
).
Mas a única coisa que vemos de concreto (e bota concreto nisso) é a rodovia. A ligação ferroviária no planalto pelo sul, que ligaria o ramal da antiga Sorocabana à Santos-Jundiaí não saiu ainda.
Se fosse possível utilizar melhor a
faixa da L 10, poderíamos ver novamente a GM mandando carros por via férrea e recebendo peças (houve um trem de peças São José dos Campos- São Caetano do Sul), a Pirelli e a Firestone poderiam movimentar seus pneus, a Rhodia com fios de nylon e poliéster, a Alcoa alumínio.
Pessoal, aqui no ABC há empresas grandes ao longo da via. Se fizerem só adensameto populacional (as operações urbanas), a linha vai se tornar cada vez mais pendular, porque as pessoas vão só
sair pra trabalhar da via de manhã e chegar à tarde, e não fazer movimento constante, com empresas e residências. Por isso, sou favorável ao compartilhamento e ao zoneamento misto. próximo à faixa ferroviária
Re: Cargas, passageiros e melhorias do sistema
Enviado: 27 Abr 2009, 12:22
por Pranda
É o adensamento via operação urbana me parece adequado para a L10 na altura de São Paulo, não na região do ABC.
Mas eu me lembro, não achei a notícia, que o Serra procurou o Lula, ano passado ou ainda em 2007 com o projeto do Ferroanel para que o GF particpa-se com verbas para a construção. E depois não me lembro de mais notícias a respeito.
Aliás se for isso, o Governo do Estado de São Paulo deveria estar esperneando para sair esta obra. Ou então procurando outras formas de viabiliza-la.
É um trecho tão curto de ferrovia, principalmente o tramo Sul, é ridículo a coisa continuar assim.
Re: Cargas, passageiros e melhorias do sistema
Enviado: 27 Abr 2009, 14:29
por Ramos
Pranda escreveu:
É o adensamento via operação urbana me parece adequado para a L10 na altura de São Paulo, não na região do ABC.
Mas eu me lembro, não achei a notícia, que o Serra procurou o Lula, ano passado ou ainda em 2007 com o projeto do Ferroanel para que o GF particpa-se com verbas para a construção. E depois não me lembro de mais notícias a respeito.
Aliás se for isso, o Governo do Estado de São Paulo deveria estar esperneando para sair esta obra. Ou então procurando outras formas de viabiliza-la.
É um trecho tão curto de ferrovia, principalmente o tramo Sul, é ridículo a coisa continuar assim.
O projeto do Ferroanel chegou a entrar no orçamento do ministério dos transportes (posteriormente no PAC), onde o a união previa a conclusão das obras para 2009 ou 2010. Mas o projeto foi cancelado por que o governo federal encontrou uma solução mais barata, que prevê a instalação de trilhos paralelos aos da CPTM além da construção de um túnel para o transporte de cargas na região da Luz.
Re: Cargas, passageiros e melhorias do sistema
Enviado: 27 Abr 2009, 18:59
por Pranda
É a história de sempre, cancelam, mas depois nem a solução mais barata acontece, e tudo é varrido para baixo do tapete, esquecido, e São Paulo para o governo federal não existe, e isso não importa o presidente e o partido no poder, fica sempre a margem, não recebe centavos de verba pública do orçamento federal, no máximo um financiamento do BNDS, que como todo financiamento tem de ser pago depois.
Re: Cargas, passageiros e melhorias do sistema
Enviado: 13 Mai 2009, 11:43
por Landrail
O melhor a ser feito na minha opinião é a segregação das vias, assim como foi feito em BH, com remodelação do traçado para corrigir trechos críticos.
Retirar os trechos urbanos é burrice, é limitar o uso das ferrovias e a oferta logística das industrias, alguém conhece um "polo de indústria" fora de uma cidade.
Re: Cargas, passageiros e melhorias do sistema
Enviado: 13 Mai 2009, 12:51
por Vicente
Land, é justamente isso que disse: compartilhar
faixa de domínio, não as
vias.
Aqui na L10 é aparentemente mais fácil, seria mais reativar vias. As curvas da EFSJ não são fortes entre Luz e Paranapiacaba. Cara, a GM tinha movimentação ferroviária, assim como o terminal de combustíveis da Petrobrás de São Caetano, a nossa armazenadora (Utingás) e o moinho São Jorge (farinha de trigo) operava também. A Pirelli tinha uma estação de passageiros pra funcionários. Nas outras linhas, não sei como isso funcionaria, mas a 10 seria possivelmente a menos complicada pra fazer.
Re: Cargas, passageiros e melhorias do sistema
Enviado: 13 Mai 2009, 13:09
por Landrail
linha 10 atende parte do ABC, certo, é a região mais industrializada da RMSP certo, então tem que focar nela, depois nas demais como a linha 12, que pelo que fiquei sabendo os trens (tipo) de minério da MRS são seccionados em 4 com lotação máxima de 4.200 toneladas (ou 35 vagões).