Bernhard Zand
Em Dubai (Emirados Árabes Unidos)
in UOL - http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/ ... u1310.jhtm
Este é o mais longo sistema automatizado de metrô do mundo, que conta com compartimentos de luxo, wi-fi e ar condicionado. Mas será que Dubai conseguirá atrair os xeques para que estes saiam dos seus carros, em um emirado onde o litro da gasolina custa 25 centavos de dólar?
Recentemente, muitas notícias vindas de Dubai têm sido ruins. O próspero Emirado Árabe parecia estar mergulhando de cabeça na recessão, no mesmo ritmo em que subiu ao firmamento dos negócios. Os grandes planos foram congelados, os donos das agências imobiliárias viram-se subitamente quebrados e gerentes vindos de todo o mundo passaram a planejar uma fuga da região, deixando abandonados no estacionamento dos aeroportos automóveis pelos quais já tinham pago a metade das prestações.
Mas agora, ao que parece, a recessão global aproxima-se do fim, e é por isso que, neste outono, os xeques estão retomando um dos seus projetos ambiciosos do passado. E a ele acrescentaram uma campanha de marketing cuidadosamente planejada. Na última quarta-feira, às 21h09 do nono dia do nono mês de 2009, o primeiro trem entrou em serviço no novíssimo Metrô de Dubai. A inauguração do Burj Dubai, que será o prédio mais alto do mundo, e que deveria originalmente ser inaugurado no mesmo dia, foi adiada até dezembro. "Desta forma, as campainhas poderão ser tocadas duas vezes", especula Bernhard Solleder, um banqueiro alemão em Dubai.
A exibição de talento árabe também prosseguirá. Em novembro, o vizinho emirado de Abu Dhabi inaugurará um circuito de Fórmula Um e, em fevereiro, a America's Cup, uma das mais antigas e prestigiosas regatas do mundo, será realizada ao largo da costa de um outro emirado, Ras Al Khaimah.
"Veremos se os investidores sentir-se-ão estimulados por esta segunda onda, da mesma forma como ocorreu durante a primeira", diz Solleder.
Mas a primeira inauguração é a do novo metrô de Dubai. A Linha Vermelha tem 52 quilômetros, possui 29 estações e conta com espaços separados para passageiros da primeira classe e mulheres. Ele tem ainda serviço de internet sem fio em todos os vagões. Mas o mais significante é o fato de que os 30 mil trabalhadores demoraram apenas quatro anos para concluir "o sistema de metrô automatizado e sem piloto mais longo do mundo". Nada mal se comparado ao mais recente trecho de metrô inaugurado na capital da Alemanha, a chamada Linha do Chanceler, em Berlim. Ele conta com três estações, tem 1,8 quilômetro de extensão e demorou 13 anos para ser construído, embora com interrupções das obras.
É claro que nem tudo correu completamente sem problemas em Dubai, uma cidade que geralmente não deixa que as permissões de planejamento ou as questões ambientais atrapalhem o progresso. O preço final, de 5,25 bilhões de euros (US$ 7,64 bilhões, R$ 14 bilhões), foi quase o dobro das estimativas originais. Por ora, somente dez estações foram inauguradas.
Um monumento aos delírios de grandeza
Ao longo da rota, a meio caminho entre o centro da cidade e o porto de contêineres Jebel Ali, há um monumento aos delírios de grandeza, algo que não pressagia boas coisas para o futuro da linha de metrô: o Monotrilho Palm Jumeirah, que transporta passageiros até a ilha artificial de mesmo nome.
O monotrilho também impressiona os passageiros com o seu ar condicionado e as vistas fantásticas. O problema é que ninguém o utiliza. Os projetistas esqueceram-se de conectá-lo ao resto do sistema de transporte público. Eles também subestimaram - ou talvez não tenham ousado avaliar - com que rapidez a recessão reduziria as obras de construção civil na ilha artificial. Isso, é claro, pode servir como um pequeno prêmio de consolação para o europeus - afinal de contas, os trabalhos de planejamento civil valem a pena?
Além disso, o metrô de Dubai tem dois outros problemas que os projetistas europeus nunca tiveram que levar em conta. Quando faz 40ºC à sombra, como fazer com que as pessoas usem um metrô sem sofrerem de insolação? E como atraí-las para que saiam dos seus carros em uma cidade onde a gasolina custa apenas 25 centavos de dólar o litro?
A resposta à primeira questão envolve enormes pontes para pedestres dotadas de ar-condicionado e com um elegante formato de concha que pouco prejudica os tetos das estações de trem, bem como uma frota de ônibus, incluindo várias dezenas que foram fabricados na Alemanha. Porém, como os preços dos táxis em Dubai ainda são relativamente baixos, é mais provável que muitos passageiros prefiram seguir para a estação de trem de táxi.
A segunda questão - que está vinculada ao preço do petróleo - é mais difícil de responder. Dubai é quase tão obcecado com os automóveis quanto Los Angeles. Somente 6% da população de Dubai usa transporte público. Segundo os projetistas da cidade, o Metrô de Dubai mudará isso.
No próximo verão, quando a segunda linha de metrô for inaugurada, eles calculam que os passageiros farão 200 milhões de viagens por ano.
E fazem muito bem! 