Artigo - Gerson Toller - RF nro 70
Enviado: 25 Set 2009, 09:02
Ótimo artigo na última edição da Revista ferroviária, com novidades, além das ótimas notpicias sobre a aceitação do Expresso turístico e seus prováveis desdobramentos:
Gerson Toller - RF escreveu:sucesso sem par do trenzinho de fim de semana
da CPTM, para Mogi e para Jundiaí (ver RF
05/09), com reservas esgotadas até 20 de
novembro, vem demonstrar na prática o que todo mundo
já sabia: que as pessoas adoram viajar de trem. Não
apertadas num metrô, na hora de pico, que isso não é
viajar. Mas sentadas confortavelmente numa poltrona
estofada, com a paisagem passando ao lado (sem carros e
ônibus fazendo fumaça), podendo caminhar entre os
bancos, podendo se servir de um lanche, enfim, tudo que
sempre caracterizou a viagem no trem de passageiros.
Segundo Ayrton Camargo, coordenador técnico do
projeto da CPTM, os passageiros também acham muito
importante que haja um chefe do trem uniformizado,
conferindo os bilhetes na plataforma. E amam o ambiente
da Estação da Luz, bela catedral das estradas de ferro, no
centro velho de São Paulo.
Sempre me perguntei porque as pessoas gostam tanto
de trens, inclusive os que nunca andaram neles. E acho que
é esta impressão de segurança e de ordem, a prova de que
existe um sistema tomando conta de tudo - sentimento tão
oposto ao vale-tudo do veículo rodoviário. Não se gosta
de trem como se gosta de automóvel. O automóvel é do
seu dono, e quanto mais for diferente melhor. O trem não,
o trem não é de ninguém e é de todo mundo. "Meu avô
acertava o relógio pelo trem da Paulista", dizem as pessoas.
O trem protege, como uma casa protege a quem mora
nela. E ao mesmo tempo anda, corre, apita... O trem,
mesmo o mais moderno, remete sempre um pouco para o
passado, para a imagem de estações, partidas e chegadas,
tetos muito altos, fumaça e vapor. Se não nós mesmos, de
nossos pais, avós, ou os personagens de livros e filmes que
assistimos. O trem, afinal, existe há 150 anos.
Mas estou me desviando . O que eu queria mesmo
dizer é que o trenzinho da CPTM para Jundiaí e para Mogi
representa, modestamente, a volta do trem interurbano
para o Brasil. Não do jeito que está, com carros
restaurados e uma locomotiva da década de 50. Mas o
sucesso foi tanto que a CPTM acaba de contratar uma
consultora (Fernandes & Terruggi) para estudar a
viabilidade da implantação de um trem regional de
verdade, confortável, rápido sem ser de alta velocidade, e
que já tem até nome: Expresso Noroeste. Que permita a
quem mora fora de São Paulo tomá-lo pela manhã, andar
sentado 50 km até a mesma Estação da Luz, de lá tomar
um metrô e chegar ao local de trabalho. E voltar à tarde
pelo mesmo caminho. Como fazem todos os dias milhões
de pessoas em dezenas de cidades no mundo, de Londres a
Tóquio (o diretor da Siemens Mobility, Paulo Alvarenga,
conta que a Siemens tem um anúncio mostrando um trem
à noite, em fundo escuro, sobre uma ponde escura, só com
as janelinhas iluminadas, e um passageiro pensando
assim: "Para trabalhar na cidade eu preciso morar na
cidade?" Este anúncio naturalmente não pode ser
publicado no Brasil, pois aqui a resposta é "precisa sim!").
O Plano de Expansão da CPTM conduzido pelo
governo Serra, sem dúvida necessário e eficaz, priorizou a
malha central da operadora, os famosos 160 km que vão
virar "metrô de superfície". Por conta disso as pontas da
malha -- para Jundiaí,Mogi, Rio Grande da Serra, Grajau,
municípios circunvizinhos à capital - foram esquecidas.
Ou quase. O protesto da população de Mogi contra a
substituição do trem metropolitano que servia a cidade
por um VLT deu resultado. Hoje o Expresso Leste vai
direto até Estudantes, uma estação depois de Mogi, sem
baldeação em Guianazes, e com o mesmo equipamento
que serve a malha central.
O Expresso Norte dando certo, outros poderão surgir,
para outras direções, ligando São Paulo aos municípios
vizinhos. Isto reabrirá um mercado importante que a
ferrovia perdeu para o ônibus e para o automóvel ao longo
da segunda metade do século passado. Reabrirá também um
novo nicho para os fabricantes de material rodante, que
passaram os últimos anos discutindo trens regionais entre
cidades médias, sem ver a oportunidade que tinham pela
frente. E criará novas oportunidades para os concessionários
privados. Na hora em que se prepara a concessão do TAV, é
um bom assunto para discutir em paralelo