Iphan começa a salvar da degradação milhares de documentos que contam a história dos trens. Antiga sede da RFFSA, na Rua Sapucaí, em Belo Horizonte, vai se tornar Centro da Memória Ferroviária de MG
Gustavo Werneck - Estado de Minas
MARIA TEREZA CORREIA/EM/D.A PRESS
Edifício no Bairro Floresta vai ser transformado em memorial, abrigar coleções de documentos e será aberto à visitação
Depois de mais de uma década, um valioso material começa a se desfazer dos barbantes e sair das caixas, perdendo o cheiro de mofo, marcas de insetos, amarelo das infiltrações e o tom opaco do abandono. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) deu início à recuperação de milhares de documentos do acervo da extinta Rede Ferroviária Federal S/A (RFFSA), que foi liquidada em 1996 e extinta em 2007, amontoou os pedaços importantes de sua memória em salas do prédio da Rua Sapucaí, 423, no Bairro Floresta, na Região Leste de Belo Horizonte. Entre o material já pesquisado, há raridades, como a Collecção das Leis, com o primeiro dos mais de 60 volumes datado de 1867, portanto nos tempos imperiais, plantas de estações de trens, desenhos de vagões, relatórios técnicos, notas fiscais, fotografias e até os estudos de criação da logomarca da empresa. Outra boa novidade é que o belo prédio que foi sede da RFSSA e tem dois vagões na frente será restaurado e transformado em Centro da Memória Ferroviária de Minas Gerais.
Em 10 meses de trabalho, a equipe da bibliotecária Mônica Elisque, chefe do Centro de Documentação do Iphan/Superintendência Regional de Minas, fez a higienização, conservação e inventário de 11 mil títulos (livros e periódicos) e de mais 25 metros lineares de documentação arquivística, que se traduz por memorandos, correspondência interna, relatórios e outros papéis. “Ainda não temos noção da quantidade de documentos e esse é um desafio. Pelo que vimos, há registros não só de BH, como também do Rio de Janeiro (RJ), onde ficava a sede da Rede, e de outros países, pois havia muitos equipamentos importados”, conta a bibliotecária. Ela explica que foram executadas uma etapa do trabalho de catalogação e duas de conservação preventiva, devendo ocorrer, em breve, nova licitação para contratação de empresa especializada em preservação e restauro. A intenção do Iphan, que banca o projeto, é fazer a restauração desse “tesouro” e mostrá-lo como uma das atrações do futuro Centro de Memória.
Minas, que ao lado de Rio de Janeiro e São Paulo guarda a maior parte da documentação ferroviária do país, é o estado pioneiro na recuperação desse tipo de acervo. Em junho, durante o I Seminário Nacional sobre o Patrimônio Cultural Ferroviário Brasileiro, na capital mineira, os técnicos constataram, por meio de depoimentos de representantes de outros estados, que pouco está sendo feito em suas cidades e que muito desse patrimônio está perdido ou desmembrado. “O pessoal da Rede era muito organizado, talvez por isso tenha gerado tantos documentos. Todas as atividades tinham manual, tudo ia para o papel”, diz a bibliotecária.
A situação de abandono foi alvo de matéria publicada pelo Estado de Minas em 2007, o que demandou ação de busca e apreensão do acervo pelo Ministério Público Estadual (MPE). Na época, por decisão da Justiça, o acervo ficou sob guarda do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha)/Secretaria de Estado da Cultura. Depois, com a extinção da Rede, o caso chegou à esfera federal, sendo a documentação incorporada ao patrimônio da União e merecedora de total atenção do Ministério Público Federal (MPE).
“O serviço de recuperação do material é um grande avanço, pois ele se encontrava em completo abandono. Temos, nesse conjunto valioso, livros franceses, ingleses e alemães. Se continuasse do jeito que estava, a memória ferroviária de Minas perderia um dos seus bens mais valiosos. Na ação, pedimos ainda o restauro dos documentos”, afirma o titular da Coordenadoria das Promotorias de Justiça de Defesa do Patrimônio Histórico, Cultural e Turístico/MG (Cppc), Marcos Paulo de Souza Miranda.
http://www.uai.com.br/UAI/html/sessao_2 ... erna.shtml
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Trens entram no trilho da história das ferrovias em Minas
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