Via Estrutural Norte no ramal ferroviário
Enviado: 07 Nov 2009, 09:53
Posto aqui a opinião de uma moradora do bairro Belvedere, em Belo Horizonte, enviada ao jornal comunitário Jornal do Belvedere e Condomínios de Nova Lima. Indignada tanto quanto eu com o projeto da Prefeitura de Nova Lima, cidade dormitório da capital mineira, para transformar um ramal ferroviário desativado na divisa entre os dois municípios em mais uma avenida, a leitora do jornal (disponível online) interrompeu seus momentos de descanso na Europa para enviar o email em repúdio ao temeroso projeto novalimense.
“À Redação do Jornal Belvedere e Condomínios de Nova Lima"
At. Goretti Senna.
Prezada editora,
Em relação à matéria publicada na edição de nº77 sobre a possibilidade da construção da “Via Estrutural Norte”, dou a minha opinião, baseada na recente explosão demográfica na divisa dos municípios de Belo Horizonte e Nova Lima; nos fatores ambientais relativos à região e à falta de motivos claros para a construção de tal via, que atravessaria bairros nobres de Belo Horizonte e Nova Lima, além de áreas de preservação ambiental.
A construção da via implicaria na retirada precipitada dos trilhos da ferrovia, que num futuro próximo, poderia servir à construção de meio de transporte urbano mais moderno, eficaz e barato, como os metrôs e trens, nos mesmos moldes de países muito mais urbanizados, desenvolvidos e modernos, como os europeus. Ou seja, a retirada dos trilhos viria a prejudicar o transporte coletivo entre Belo Horizonte e Nova lima, substituindo o ferroviário (mais barato e rápido) pelo rodoviário (mais caro para a população e que demanda mais recursos para sua manutenção).
A presença de uma via intermunicipal rodoviária passando em área de reserva ambiental, isto é, a Mata do Jambreiro, configura crime ambiental, de acordo com o Parágrafo 4º do Artigo 225 da Constituição da República, uma vez que a Mata do Jambreiro é remanescente da Mata Atlântica.
Outro fator a ser levado em conta seria a desvalorização dos imóveis residenciais já construídos nos bairros Belvedere, Vila da Serra e proximidades causadas pelo surgimento da rodovia estrutural; transformando a bela e nobre região em bairros marginais a uma rodovia intermunicipal. Também, a grande possibilidade de construção de imóveis residenciais e comerciais, muitos sem autorização prévia, às margens da tal rodovia, deve ser bem pensada, pois só causaria maiores danos à região já bastante sacrificada.
A justificativa do secretário de Desenvolvimento de Nova Lima para a construção da via é duvidosa, uma vez que uma rodovia gera empregos durante sua construção, mas não geraria empregos em Nova Lima, como ele alega, pois para isso, a oferta de emprego já deveria existir e a demanda estaria reprimida por falta de transporte para o morador de Belo Horizonte e municípios próximos. O que ele afirma é que “se houvessem mais empregos na cidade, o morador não precisaria sair daqui (Nova Lima) para trabalhar lá fora, com isso diminuiria a mobilidade urbana em direção a outros centros e, consequentemente, ele estaria obtendo mais qualidade de vida”. Ora, o secretário mostrou-se totalmente contraditório em sua explicação, já que a via deveria ser construída para aumentar a mobilidade urbana. Se o que ele deseja é diminuí-la, então a via não tem razão de existir.
Tendo em vista o que foi exposto, o cofre do município de Nova Lima poderia faturar muito com a construção da rodovia. E ponto. Os argumentos para a construção dela são duvidosos. Muito melhor seria a revitalização da Mata do Jambreiro e a recuperação das áreas que incluem a Mina das Águas Claras e a Serra do Curral como um todo. Essas regiões, devastadas pelas mineradoras, merecem a construção de parques protegidos por leis que proibissem obras de grande porte e que tivessem como objetivo o resgate e a preservação de espécies nativas da Mata Atlântica. Após o esgotamento dos recursos minerais e da extinção de grande parte da Mata, nada mais venal do que partir para a
construção de rodovias na região e permitir que as antigas mineradoras se transformem nas empreiteiras que faturariam com a Via Estrutural Norte, ao invés de fazê-las responsáveis pelas obras de revitalização daquilo que destruíram e pela construção de um parque que beneficiaria Nova Lima e Belo Horizonte.
Atenciosamente, Cynthia Barros, médica e moradora do Belvedere. Genebra, 14 de outubro de 2009”
http://jornaldobelvedere.com.br/images/pag02nov09_1.pdf
“À Redação do Jornal Belvedere e Condomínios de Nova Lima"
At. Goretti Senna.
Prezada editora,
Em relação à matéria publicada na edição de nº77 sobre a possibilidade da construção da “Via Estrutural Norte”, dou a minha opinião, baseada na recente explosão demográfica na divisa dos municípios de Belo Horizonte e Nova Lima; nos fatores ambientais relativos à região e à falta de motivos claros para a construção de tal via, que atravessaria bairros nobres de Belo Horizonte e Nova Lima, além de áreas de preservação ambiental.
A construção da via implicaria na retirada precipitada dos trilhos da ferrovia, que num futuro próximo, poderia servir à construção de meio de transporte urbano mais moderno, eficaz e barato, como os metrôs e trens, nos mesmos moldes de países muito mais urbanizados, desenvolvidos e modernos, como os europeus. Ou seja, a retirada dos trilhos viria a prejudicar o transporte coletivo entre Belo Horizonte e Nova lima, substituindo o ferroviário (mais barato e rápido) pelo rodoviário (mais caro para a população e que demanda mais recursos para sua manutenção).
A presença de uma via intermunicipal rodoviária passando em área de reserva ambiental, isto é, a Mata do Jambreiro, configura crime ambiental, de acordo com o Parágrafo 4º do Artigo 225 da Constituição da República, uma vez que a Mata do Jambreiro é remanescente da Mata Atlântica.
Outro fator a ser levado em conta seria a desvalorização dos imóveis residenciais já construídos nos bairros Belvedere, Vila da Serra e proximidades causadas pelo surgimento da rodovia estrutural; transformando a bela e nobre região em bairros marginais a uma rodovia intermunicipal. Também, a grande possibilidade de construção de imóveis residenciais e comerciais, muitos sem autorização prévia, às margens da tal rodovia, deve ser bem pensada, pois só causaria maiores danos à região já bastante sacrificada.
A justificativa do secretário de Desenvolvimento de Nova Lima para a construção da via é duvidosa, uma vez que uma rodovia gera empregos durante sua construção, mas não geraria empregos em Nova Lima, como ele alega, pois para isso, a oferta de emprego já deveria existir e a demanda estaria reprimida por falta de transporte para o morador de Belo Horizonte e municípios próximos. O que ele afirma é que “se houvessem mais empregos na cidade, o morador não precisaria sair daqui (Nova Lima) para trabalhar lá fora, com isso diminuiria a mobilidade urbana em direção a outros centros e, consequentemente, ele estaria obtendo mais qualidade de vida”. Ora, o secretário mostrou-se totalmente contraditório em sua explicação, já que a via deveria ser construída para aumentar a mobilidade urbana. Se o que ele deseja é diminuí-la, então a via não tem razão de existir.
Tendo em vista o que foi exposto, o cofre do município de Nova Lima poderia faturar muito com a construção da rodovia. E ponto. Os argumentos para a construção dela são duvidosos. Muito melhor seria a revitalização da Mata do Jambreiro e a recuperação das áreas que incluem a Mina das Águas Claras e a Serra do Curral como um todo. Essas regiões, devastadas pelas mineradoras, merecem a construção de parques protegidos por leis que proibissem obras de grande porte e que tivessem como objetivo o resgate e a preservação de espécies nativas da Mata Atlântica. Após o esgotamento dos recursos minerais e da extinção de grande parte da Mata, nada mais venal do que partir para a
construção de rodovias na região e permitir que as antigas mineradoras se transformem nas empreiteiras que faturariam com a Via Estrutural Norte, ao invés de fazê-las responsáveis pelas obras de revitalização daquilo que destruíram e pela construção de um parque que beneficiaria Nova Lima e Belo Horizonte.
Atenciosamente, Cynthia Barros, médica e moradora do Belvedere. Genebra, 14 de outubro de 2009”
http://jornaldobelvedere.com.br/images/pag02nov09_1.pdf