Ambulantes e seguranças fazem jogo de gato e rato nos trens de São Paulo
Rodrigo Bertolotto Do UOL Notícias Na Grande São Paulo
Os vendedores ambulantes correm dos seguranças e aproveitam o cerco para fazer promoções relâmpagos entre os passageiros. Os rabiscos nos vidros competem com a paisagem do lado de fora do vagão. Nos trilhos vizinhos, composições enferrujadas colecionam pichações.
Garota espera composição retomar trajeto na estação Lapa, tendo ao fundo vidro rabiscado
beira da linha férrea desfilam conjuntos habitacionais, plantações de eucaliptos, represas de águas barrentas com crianças se banhando, favelas, vacas pastando, indústrias, circos, campos de futebol e quase todo o subúrbio da Grande São Paulo.
Os trens da CPTM atravessam 22 municípios, 89 estações e 260 quilômetros da metrópole, transportando diariamente dois milhões de pessoas. E servem de opção para a maior cidade do país, estrangulada com tantos carros.
A SEMANA SEM CARRO
O UOL Notícias publica nesta semana, marcada pelo 22 de setembro (o Dia Mundial Sem Carro), uma série de reportagens mostrando as cinco opções de deslocamento sem ser o transporte individual sobre quatro rodas. Além do texto desta segunda sobre os trens da Grande São Paulo, a série trará até sexta matérias sobre viagens de metrô, ônibus, bicicleta e a pé.
É o caso de Lígia Centeno, 30, jogadora de vôlei do clube Pinheiros. Uma vez por semana ela deixa o carro em estacionamento de shopping em Osasco e pega o trem para treinar depois de desembarcar na estação Hebraica-Rebouças. "É o dia do meu rodízio por isso não estou de carro. Gasto R$ 6 com o estacionamento, mais R$ 5 com as passagens de ida e volta. Para mim, não compensa", diz a ex-colega de BCN com Fernanda Venturini e Virna.
No mesmo vagão estava o bancário Luis Conceição. "Meu carro está na oficina. Mas, em geral, uso o trem para deixá-lo para minha mulher ir ao trabalho. A condução dela é mais difícil", conta o usuário.
A linha que vai de Osasco ao Grajaú e desfila pela rica beira-rio do Pinheiros é a menina dos olhos da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos: estações estilosas, vagões com ar condicionado e vidros límpidos descortinam os arranha-céus espelhados.
O trem corta o fim de tarde, enquanto o rio e a marginal ficam parados. Entre um leito de bactérias e outro de luzes traseiras, a composição mais parece um trem-bala. Passando a estação Ceasa, o cenário começa a mudar. Do lado direito, se vê agências de publicidades, estúdios fotográficos e produtoras de vídeo que lotearam a antes fabril Vila Leopoldina. Do lado esquerdo, está o Cadeião de Pinheiros.
Chegando à estação Presidente Altino, a realidade não precisa bater à porta: ela abre para um pátio de vagões enferrujados e pichados com inscrição como "Aqui é Z.O.", "Os Mulekes São Sinistros" e "Caracas" - esta última apelido carinhoso para a parada adiante de Carapicuíba.
SAQUE VIAGEM
A jogadora de vôlei Lígia Centeno desembarca em Osasco
Na linha 8, que passa ainda por Barueri, Jandira, Itapevi, até acabar na estação Amador Buenos, os trens estão degradados, com janelas e bancos riscados. Só o nome do ramal foi embelezado até agora: chama-se Diamante, assim como o Rubi leva a Francisco Morato, a Safira passa por Itaquaquecetuba, a Turquesa acaba em Rio Grande da Serra e a Esmeralda se freia no Grajaú. O governo promete 60 novos trens e 34 trens reformados até o ano que vem, em um investimento de R$ 7,6 bilhões. Mas, por enquanto, a realidade não corresponde ao folheto oficial que é distribuído perto das catracas.
E o que chama mais atenção é o jogo de gato e rato entre os camelôs dos trens e os seguranças das plataformas, munidos de cassetetes e até cães. Essa perseguição serve até para fazer ofertas instantâneas. Um ambulante, que entrara oferecendo um chocolate por R$ 2, logo começou sua liquidação: "Caramba, olha os homens me cercando. Vão tomar minha mercadoria. Vou fazer três por R$ 2 para acabar a caixa." Simulação ou não, a estratégia fez efeito, e o vagão inteiro se lambuzou com o chocolate amolecido pelo calor.
Os outros produtos clandestinos disponíveis são água, chiclete, amendoim, refrigerante, cerveja, picolé de jaca ("É lançamento. Só 50 centavos. Só aqui na minha mão", berra o vendedor) e até um livro com 61 receitas de bolo caseiro feitas no liquidificador.
"A estratégia visa o combate, sobretudo, ao comércio de ambulantes, a atuação de pedintes, pregação religiosa e qualquer outro comportamento inadequado que cause transtorno aos usuários, como o uso de entorpecentes. Em relação ao comércio ambulante, as mercadorias são apreendidas e o ambulante é retirado do sistema. Para a venda de comidas e bebidas regulamentadas, a CPTM concede espaços destinados a tais fins em suas estações, mediante licitação pública", esclarece a assessoria de imprensa da companhia.
Nas barracas oficiais, uma dieta de carboidratos é oferecida para quem tem de enfrentar as baldeações e longas jornadas ("O trecho Itapevi até a estação Júlio Prestes tem tempo estimado de 60 minutos", avisa o serviço de som).
ESTATÍSTICA SOBRE TRILHOS
O percentual de usuários masculinos é de 55%. Cerca de 77% dos usuários habituais encontram-se na faixa etária dos 18 aos 44 anos, revelando assim a predominância dos mais jovens no sistema de trens - os idosos, acima dos 65 anos, constituem menos de 1,8% dos usuários.
Segundo levantamento da CPTM, as classes sociais B e C formam a maioria dos passageiros dos trens paulistanos, com 79,1%.
O trecho que mais transporta usuários é a linha 11 (Luz-Estudantes), com cerca de 500 mil usuários da zona leste e região. A linha com menor movimento de usuários é a Linha 12 (Brás-Calmon Viana), com cerca de 180 mil usuários por dia útil.
A pedida é o hot-dog prensado com suco artificial por R$ 1,33, com direito a despejar camadas de ketchup e mostarda vindos de botijão postado no balcão. Para os mais apressados, a solução é pegar um saco de biscoito por R$ 1,70 cada 100 gramas.
Esse regime, mais o balanço do trem, faz os passageiros entrarem em estado soporífero, como um senhor corintiano com cabeça pendente e uma revista de palavras-cruzadas quase caindo da mão, apesar de duas garotas vizinhas escutarem no talo seus celulares (mesmo com o alto-falante repetindo o alerta: "Seu aparelho sonoro pode incomodar os outros usuários"). O sono continua mesmo quando entra um cego e pede esmola dando seguidos golpes com sua bengala no piso do trem.
Na linha Rubi, rumo ao norte, tudo se repete. Mas é possível ver o peso da história nas ferragens de estações antigas, ao contrário do trecho para o oeste, em que A Sorocabana foi engolida pelo sistema de passageiros. Mostrando seu passado, a linha apelidada de "A Inglesa" foi construída pela São Paulo Railway no século 19. Na parada de Franco da Rocha, a passarela de treliças metálicas e a estação em tijolinho à vista denunciam sua origem britânica. Por lá, quando o trem passa, a cancela baixa, carros e pedestres esperam para seguir seus trajetos - algo impensável na massa de asfalto de São Paulo.
O vagão feminino, já aplicado, por exemplo, nos trens do Rio, não saiu do papel por aqui. As mulheres seguem espremidas nos horários de rush - o adesivo "não se encoste, nem apóie as mãos" colado em todas as portas bem poderia ser usado pelas passageiras. "Isso não pegou", diz o orientador de embarque da CPTM. O que sim existe é o embarque preferencial de gestantes, idosos e deficientes no primeiro vagão nas horas de pico.
Mas a verdadeira separação que está acontecendo é o isolamento dos trilhos das favelas que se multiplicam nos terrenos vizinhos da ferrovia. "A Companhia está complementando a vedação da faixa operacional em toda a sua malha. O projeto totaliza 176 km de vedação de vias. Para isso, está adotando a construção de muros, instalação de alambrados nas áreas rurais e de preservação ambiental e de gradis nas áreas urbanas", responde a assessoria de imprensa.
Fonte: http://noticias.uol.com.br/especiais/tr ... 48u57.jhtm
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[Notícia]Ambulantes e seguranças
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Re: [Notícia]Ambulantes e seguranças
Hoje vi um ambulante dentro de uma composição da Linha 11. Cena rara, pois faz uns 2 meses que eles deram uma sumida.
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Re: [Notícia]Ambulantes e seguranças
As últimas vezes que usei linha 8, 9, 10 e 12 também havia. Enfim, falta coibir energicamente ....
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Re: [Notícia]Ambulantes e seguranças
Não deixem de denunciar os ambulantes via SMS-Denúncia. A CPTM não consegue acabar com os ambulantes sem o auxílio dos usuários.
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Re: [Notícia]Ambulantes e seguranças
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