Mensagem não lida
por Adenilson » 02 Mar 2010, 16:55
Há algum tempo me interesso pela história do urbanismo da cidade e é claro isso inclui a ferrovia.
Sobre Todos os Santos e as estações citadas aqui, tenho uma longa história e espero que tenham paciência para ler.
A minha opinião é que a estação foi desativada e demolida por ter um movimento reduzido, pois apenas a distância não explicaria, uma vez que Riachuelo e Sampaio estão aproximadamente à mesma distância uma da outra, que Todos os Santos tinha do Méier e ambas estão em operação.
Durante as minhas pesquisas sobre o assunto, li em um trecho de livro que os moradores de Todos os Santos tinham o orgulho de ter uma estação pacata e os do Méier reclamavam que os vizinhos iam tirar-lhes o sossego, concluindo que o movimento em Todos os Santos seria muito menor que no Méier devido à migração transitória dos moradores, o que pode ter contribuído para a Rede Ferroviária ter concluído que a estação Todos os Santos seria supérflua. O interessante é que a estação de Todos os Santos, inaugurada em 1868 era 21 anos mais antiga que a do Méier.
Outra curiosidade é que em épocas passadas, as plataformas eram mais curtas e mais baixas. Em me recordo quando a plataforma do Méier foi aumentada em altura nos anos 80, mas o seu comprimento original já não é mais o mesmo desde os anos 30 ou 40 e ia até pouco depois da Rua Lucídio Lago no sentido Todos os Santos. Quem for mais atento pode olhar a plataforma do Méier vista da Rua Arquias Cordeiro e verá onde ela terminava em forma de rampa como as estações antigas. Dá para ver a emenda do concreto em comparação à plataforma original feita em pedra, tanto na altura quanto no comprimento.
Outra questão é que o acesso à estação do Méier até essa alteração era somente pela 1ª passarela, pois a passarela do Salgado Filho ainda não existia, ou seja, o acesso único para a estação do Méier era quase tão distante de Todos os Santos quanto era do Engenho Novo.
Tenho 39 anos hoje e no início de 1980 me mudei para o Méier, sendo que no ano anterior já freqüentava o bairro e posso garantir que nessa época já não havia o menor sinal da estação.
No final dos anos 80 a passagem subterrânea que interligava os dois lados do bairro ainda existia e como era perigoso ir sozinho, resolvi chamar um amigo ir junto comigo e matar a curiosidade de passar por ali. Era mal iluminada, tinha o cheiro horrível e internamente era em forma de arco, mas deu para ver, também em forma de arco, o acesso à extinta plataforma lá debaixo. É claro que estava concretada.
Tinha azulejos a meia parede, canaletas para escoamento da água nos cantos e era tudo muito antigo e pesquisando livros achei uma referência que parece ser a construção da passagem subterrânea em 1922, mas o texto não deixa isso bem claro. Esse ano coincide com o ano de construção do viaduto de Todos os Santos.
Antes disso, imagino que o acesso deveria ser pelos trilhos a partir da rua, pois os trens circulavam com velocidade bem menor que hoje em dia.
No início dos anos 90, passaram a usar a passagem subterrânea para depósito de lixo, obstruindo a mesma e resolveram acabar com a passagem. Demoliram totalmente o lado voltado para a Arquias Cordeiro e dá para ver onde era a passagem, pois ali a calçada é bem mais larga. No lado da Amaro demoliram a passagem, mas deixaram de pé apenas uma parede, talvez por preservação.
A estação não somente foi desativada, mas demolida também. Após muita pesquisa cheguei à conclusão que foi desativada no final dos anos 60 ou iniciozinho dos 70, mas não sei se foi demolida logo depois ou se a plataforma ficou lá por um tempo.
Quem pode responder isso são moradores que sejam pelo menos 10 anos mais velhos que eu, pois esses devem se lembrar da estação, mas imagino que ela deveria ser muito parecida com a estação do Sampaio, com a cobertura da escadaria de acesso em forma de caixa de concreto e alvenaria no início da estação, uma pequena parte coberta e o restante descoberta, mas isso é meramente palpite.
Sobre o que o André escreveu é fato. Dá para ver do viaduto de Todos os Santos onde era a plataforma, pois existe um afastamento dos trilhos para a conformação da mesma e o local está cheio de capim, que apenas cresceu exatamente onde era a plataforma, permitindo estimar o seu comprimento.
Outra coisa interessante é a partir da Rua Arquias Cordeiro podemos concluir que uma grade acompanhava a plataforma da estação do jeito que é no Méier e que ia da Rua Getúlio até a Rua José Bonifácio, pois percebemos uma descontinuidade no muro, pois foi construído um em cima do original depois que a estação foi demolida. Existem também dois portões de ferro cimentados, um próximo a Getúlio e outro próximo à José Bonifácio, permitindo estimar o comprimento da ex estação.
Esclarecendo o que o Bruno disse, não existia parte alguma da estação de Todos os Santos dentro do Méier, pois o limite dos bairros do lado da Amaro Cavalcanti é a Rua Medina, sendo que esta ainda é Méier. A partir daí o bairro é Todos os Santos, mas essa divisão não é contínua do lado oposto, pois se assim fosse, Todos os Santos seria logo após a Coração de Maria e isso não acontece. Desse lado, Todos os Santos se inicia na Rua Getúlio, com esta inclusa. Para fechar o polígono desta descontinuidade, o limite dos bairros acompanha a linha férrea. Vi o limite dos bairros no site da prefeitura.
Também discordo que Encantado tenha sido demolida devido à proximidade com Engenho de Dentro, pois a distância entre elas era de 900 metros e até Piedade era de 1 Km (distância medida a partir do início de cada plataforma).
No caso de Encantado dá para ver o espaçamento nos trilhos onde era a plataforma, visto da linha amarela a partir do 3º trilho a partir da Avenida Amaro Cavalcanti. Próximo à Rua Goiás existe um espaçamento, mas foi devido à supressão de outro trilho.
O seu comprimento era da passagem subterrânea até pouco antes de passagem de veículos sob a linha férrea que interliga os 2 lados do bairro.
Somente na cidade do Rio as estações extintas são: (ramal Deodoro): Rocha, Silva Freire, Todos os Santos, Encantado e Dona Clara. (ramal Santa Cruz): Viegas, João Ellis e Matadouro. (ramal Belford Roxo-antiga auxiliar): Herédia de Sá, Maria da Graça (também pertencente à extinta E.F. Rio D’ouro), Monhangaba, Terra Nova, Engenheiro Leal, Eduardo Araújo e Turiaçú e as estações da extinta E.F. Rio D’ouro cuja maioria virou estação do metrô, são elas: Maria da Graça (também pertencente à auxiliar), Del Castilho (a plataforma da auxiliar está em operação hoje e somente a da Rio D’ouro foi demolida), Inhaúma, Engenho da Rainha, Vicente de Carvalho, Irajá, Colégio, Coelho Neto e Acari. Não incluí nessa lista as estações terminais.
De todas as estações citadas, acho que só Viegas, Monhangaba e Eduardo Araújo foram desativada em tempos muito remotos. Acho que todas as outras, sem exceção, existiram pelo menos até os anos 60.
Da lista acima também, enfatizo que somente as plataformas de João Ellis, Matadouro e Silva Freire ainda existem hoje.
Sobre a volta de Todos os Santos talvez hoje tivesse demanda, pelo menos para estação funcionar em horário comercial, mas não sei a posição da Supervia quanto a isso.
Parabéns pela paciência se vocês leram até aqui, mas gosto muito desses assuntos e gosto de passar as informações que pesquisei ou presenciei.
Abraços.
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Adenilson em 05 Mar 2010, 09:06, em um total de 1 vez.